Brasil

Eleições 2026: o que sobrou da direita

Possíveis postulantes à corrida presidencial de 2026 no vácuo deixado por Bolsonaro têm dificuldades para se popularizar entre os eleitores: governadores no exercício do mandato, esses pré-candidatos têm patinado em gestões incorretas politicamente

Crédito:  Luis Adolfo

Tarcísio e Zema derrapam em gestões que adotam posturas desaprovadas pelos eleitores (Crédito: Luis Adolfo)

Por Samuel Nunes

Para a classe política, a disputa presidencial de 2026 começou quando Lula foi eleito, em outubro do ano passado. Naquele momento, Bolsonaro já contava com a possibilidade de se tornar inelegível, como acabou se confirmando meses depois por meio da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com ele fora da disputa, o campo da direita se dispersou e vários nomes tentam se popularizar nacionalmente para entrar na concorrência pela vaga deixada pelo ex-presidente. O problema é que todos ainda derrapam no comportamento politicamente incorreto diante dos eleitores e não conseguem se viabilizar. Até o momento, há três nomes principais que poderiam herdar esse posto, todos governadores, com gestões que ainda derrapam e têm tomado atitudes desaprovadas pela população: Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Eduardo Leite (RS).

O primeiro e mais óbvio desse grupo de governadores que sobraram do apagão na direita gerado pela debacle de Bolsonaro é o chefe do Executivo de São Paulo. Ex-ministro de Bolsonaro, Freitas tem adotado uma postura de centro-direita e que ainda não agrada a boa parte do eleitorado.

No início do ano, quando fortes chuvas atingiram o litoral paulista, discursou ao lado do presidente Lula, anunciando apoio às famílias atingidas por deslizamentos de terra, mas sua atitude conciliadora irritou bolsonaristas.

Desde então, tem procurado se aproximar cada vez mais dos apoiadores de Jair Bolsonaro, para recuperar o terreno perdido. O eleitorado paulista, porém, está cansado de ser usado como trampolim para postulantes a outros mandatos.

Outro que também disputa essa vaga é o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Filiado ao Novo, ajudou na guinada da legenda à extrema-direita e sempre se colocou como apoiador do ex-presidente.

Desde o ano passado, quando venceu a eleição para governador, a campanha do mineiro tentou associá-lo mais ao bolsonarismo do que à parte da direita que defendia a tentativa de impedir o retorno do PT ao poder.

Isso vinha lhe credenciando como um nome forte, mas as recentes falas separatistas incomodaram quase todos os governadores e lhe tiraram, ao menos por ora, o apoio que necessitaria para se lançar nacionalmente.

O terceiro mais bem cotado para o posto é Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. Ainda filiado ao PSDB, tentou tornar-se presidenciável nas últimas eleições. Mas, após uma grande confusão nas prévias do partido, quando disputou com João Doria, foi preterido e viu a legenda rachar completamente. Acabou conseguindo retornar ao governo gaúcho, depois de ter renunciado para disputar a Presidência.

Caiado pode surfar a onda dos bons ventos do agronegócio para pleitear candidatura (Crédito:Evaristo Sa)

Entre os três nomes que tentam reconstruir a direita esfacelada atualmente, Leite é o que mais poderia agradar aos eleitores antipetistas e que ainda se encontram nas alas de centro-direita e de centro. Contudo, enfrentaria dificuldades para se aproximar dos bolsonaristas, já que fez críticas pesadas ao ex-presidente e tentou se colocar como nome que derrubaria Bolsonaro no ano passado.

O governador mantém bom relacionamento com o MBL (Movimento Brasil Livre), grupo ativista que ajudou a eleger Bolsonaro, mas perdeu força e influência nos últimos anos, justamente por atacar decisões ruins do ex-presidente, sobretudo no combate à pandemia.

O fato de ser assumidamente homossexual também poderia causar desconforto em conservadores, embora esse não seja um impeditivo.

Tarcísio e Zema, por outro lado, ainda tentam agradar a extrema-direita.

O governador paulista voltou a aumentar a popularidade nesse grupo depois da ação da Polícia Militar, que resultou em ao menos 18 pessoas mortas no Guarujá, em operação deflagrada depois do assassinato de policial pelo crime organizado.

A defesa que fez dos agentes que participaram da matança e das investidas de repressão na área da Cracolândia, no Centro de São Paulo, ganham eco no eleitorado de direita.

Mas depende de outras ações do governo nos próximos anos para que possa se projetar para fora desse campo político e reverter a diferença que Lula obteve, principalmente no Nordeste.

Com Zema, as falas separatistas reverberaram relativamente bem entre a extrema-direita do centro-sul. A existência de movimentos a favor do rompimento de relações dos estados mais ricos com a parte menos favorecida do País no norte e nordeste ajuda a ganhar eleitores.

Mas esses grupos reacionários estão longe de representar a totalidade dos eleitores. Apesar das diferenças econômicas e culturais, há pouquíssima disposição dos moradores desses locais de ver o País dividido, em especial os dos moradores nas capitais, que concentram a maior parte da população.

Em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, há uma ampla faixa de eleitores que são migrantes ou descendentes de pessoas que migraram do norte e nordeste, o que dificultaria a ascensão do mineiro nesse eleitorado. Zema, portanto, precisará mostrar muito trabalho para se credenciar nacionalmente.

A insegurança no Rio provocada pelo aumento da criminalidade pode afetar a candidatura de Cláudio Castro (Crédito: Marcos Vidal/Futura Press/)

Para o cientista político Paulo Kramer, ainda há outros nomes que podem se aproveitar da lacuna deixada por Bolsonaro no espectro da direita.

Ele considera ser cedo para afirmar quem será sucessor do ex-presidente como aglutinador desse eleitorado extremista. Entre os que correm por fora estão os governadores do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e o de Goiás, Ronaldo Caiado.

O chefe do Executivo fluminense tem a favor o fato de que a capital e a região metropolitana se tornaram focos de um reacionarismo forçado pela incidência da criminalidade em todos os níveis da economia e da política local. Mas a sensação de insegurança, sobretudo para quem vê o estado de fora, pode ser um fator que atrapalharia a eventual ascensão ao Planalto.

Outros nomes

Caiado pode usar o fato de Goiás estar em franca ascensão econômica, puxada principalmente pelo agronegócio. Além disso, o governador, filiado ao União Brasil, tem bom relacionamento com diversos setores, como a direita e o centro, o que poderia pavimentar uma eventual candidatura ao Planalto.

Mas nem tudo é positivo para o lado dele.

“O Caiado governa um estado que está se tornando um gigante econômico, mas ainda é um anão político, com uma representação pequena. Ele está agora no segundo mandato e tem a mesma lição de casa do Zema, que é mostrar serviço nas áreas de segurança, saúde e naquilo que interessa à população”, diz Kramer.

Outros nomes ainda podem surgir, já que ainda faltam quase três anos para as eleições. Prefeitos, deputados e senadores têm chances de ganhar popularidade.

Mas furar a própria bolha para se projetar nacionalmente ainda é um problema, sobretudo se não houver apoio de outras figuras nacionais de expressão, em especial, do ex-presidente que, neste momento, está nas cordas com a ameaça inclusive de ser preso pelo desvio de joias e outras denúncias de irregularidades.