A lua de mel com Haddad acabou?

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Marcos Strecker: "Para turbinar os impostos e viabilizar o Novo PAC, que depende de recursos duvidosos, o governo terá de negar na prática seu discurso de equilíbrio orçamentário e começar a fase de truques" (Crédito: Divulgação)

Por Marcos Strecker

Fernando Haddad começou desacreditado, e as dúvidas no mercado sobre sua gestão no Ministério da Fazenda eram justificadamente enormes. Em menos de seis meses, ele virou o jogo. Tornou-se o queridinho da Faria Lima, principal negociador do governo no Congresso e fiador do novo arcabouço fiscal e da Reforma Tributária. Mas a lua de mel pode estar chegando ao fim.

O desgaste ocorre por dois movimentos previsíveis que independem da habilidade de negociação surpreendente que Haddad tem demonstrado. Um deles é a empacada reforma ministerial, que Lula cozinha em fogo brando para ganhar força e desgastar o adversário (Arthur Lira). Outro é a necessidade de reforçar o caixa, uma missão quase impossível.

O governo corre desesperadamente para aumentar a arrecadação e continuar vendendo a tese de que vai controlar as contas públicas e zerar o déficit em 2024 (ninguém mais acredita que isso será possível).

A dificuldade em acertar as contas públicas mostra que o encantamento do mercado com o governo pode estar chegando ao fim

A fricção crescente mostra que o encantamento dos agentes financeiros com o governo está com os dias contados. A mágica foi mantida até hoje pelo compromisso com a responsabilidade fiscal e pela agenda reformista, mas nem o Orçamento de 2024 está garantido no Parlamento. A tensão ficou patente com uma escorregadela retórica do ministro, ao dizer em uma entrevista que a Câmara tem um poder muito grande e não pode usá-lo para “humilhar o Senado e o Executivo”. O alvo era o presidente da Câmara, que deu o troco adiando a discussão da regra que substituirá o teto de gastos. A fila de problemas com o Congresso é longa, e Haddad depende muito mais de Lira do que o inverso.

Para turbinar os impostos e viabilizar o Novo PAC, que depende de recursos duvidosos, o governo terá de negar na prática seu discurso de equilíbrio orçamentário e começar a fase de truques. A contabilidade criativa já começou, com a exclusão de R$ 5 bilhões do PAC da meta fiscal. O governo também quer pagar os precatórios sem que sejam computados no déficit primário. Outros artifícios já estão em andamento, como o tabelamento disfarçado do preço dos combustíveis e a volta dos subsídios. Roberto Campos Neto driblou a armadilha petista ao dar início ao ciclo de queda de juros, deixando de ser o vilão das mazelas na economia. O novo saco de pancadas para justificar os problemas com os números que não fecham será Arthur Lira.