O risco Centrão

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Germano Oliveira: "É perigoso? É. Mas é o que o PT precisa para garantir a governabilidade e tocar em frente seus projetos de reconstrução do Brasil, aniquilado pelo bolsonarismo" (Crédito: Divulgação)

Por Germano Oliveira

No primeiro mandado de Lula, o PT abriu as portas da Esplanada dos Ministérios para o Centrão, inclusive para o PTB de Roberto Jefferson, e deu no mensalão, um escândalo que marcou o governo petista, mas não inviabilizou a reeleição do primeiro metalúrgico brasileiro a chegar à presidência. No segundo mandado, o PT também se associou aos partidos do Centrão para ter maioria no Congresso e recebeu o apoio até do governador Sergio Cabral (MDB), levando a aliança ao Petrolão, uma das maiores crises político-policiais do País.

Desta vez, o presidente, que se transformou em um dos maiores líderes da história brasileira dos últimos tempos, também está recorrendo ao grupo fisiológico que reúne partidos de centro, e até da direita, para ampliar sua base de sustentação na Câmara. O PT e seus aliados de centro-esquerda têm uma base em torno de 180 parlamentares. Para aprovar um simples decreto-lei precisa ter 257 votos ou 308 para aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Como seu partido não tem esses votos, recorre, mais uma vez na história, às siglas de centro, como União Brasil, PSD e MDB.

Mesmo assim, ainda precisa de outros 60 votos para atingir o quórum necessário para aprovar todas as matérias que são enviadas por Lula ao Congresso e esses votos estão sendo cooptados junto ao PP e ao Republicanos, partidos de direita e que sustentaram o governo Bolsonaro. É perigoso? É. Mas é o que o PT precisa para garantir a governabilidade e tocar em frente seus projetos de reconstrução do Brasil, aniquilado pelo bolsonarismo.

O Centrão no Ministério serve apenas como moeda de troca e balcão de negócios. Foi assim nas outras vezes. Será assim novamente agora?

Ao contrário dos governos anteriores, neste terceiro mandato Lula está inaugurando um novo tipo de ministro. Aquele que é pau para toda a obra, que entende de tudo, de calo a câncer. Os dois novos ministros anunciados esta semana por Alexandre Padilha (Relações Institucionais), os deputados André Fufuca (PP-MA) e Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE), estão, supostamente, capacitados a assumir qualquer ministério que Lula vier a lhes oferecer. Ambos podem ser ministros de Esporte, de Desenvolvimento Social, de Portos e Aeroportos, de Indústria e Comércio, de Direitos Humanos ou Ciência e Tecnologia.

Até porque, Lula já sinalizou que deseja o Centrão no ministério basicamente para dar a maioria que o governo necessita para aprovar suas demandas, que vão da Reforma Tributária ao Arcabouço Fiscal. A capacitação técnica de cada ministro é o que menos importa. Está claro para todos os envolvidos nessa negociação que os ministérios servem apenas como moeda de troca e balcão de negócios. Foi assim nas outras vezes. Será assim novamente agora?