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China e Vertex, duas bombas a explodir

Cercado pela polícia e o MP, autuado várias vezes pela ANP por fraudes e condenado no Paraná, empresário Alan de Souza Yang, o China, tenta descaradamente obter licença para formular gasolina

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Combustíveis: ausência de fiscalização e brechas na legislação dão margens a processos judiciais (Crédito: Istockphoto)

Por Leandro Mazzini

O mercado de combustíveis está prestes a ganhar um concorrente com um histórico empresarial muito, muito suspeito. Trata-se da Vertex Formulação e Armazenagem S/A, empresa com sede em Sorocaba, interior de São Paulo, presidida por Maurício Delbons, mas reconhecida pelo mercado como sendo de Alan de Souza Yang. Apelidado de China por causa de sua origem, sua rede de postos com nomes variados é uma velha conhecida dos fiscais municipais, estaduais e federais, e também da Polícia Civil paulista, dos Procuradores e da Justiça. China já foi condenado por adulteração em bombas de gasolina no Paraná. China é, literalmente, uma bomba.

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Para conhecer melhor como atua Alan Yang ‘China’, é preciso seguir os rastros dos seus amigos que tocam a Vertex.

O presidente da empresa, Maurício Delbons, foi candidato a vereador na cidade de Senador Canedo (GO), em 2020, pelo nanico PTRB. Durante a campanha utilizou o codinome ‘Maurício do Petróleo’, referência à sua atividade principal, e conseguiu apenas 153 votos.

Mesmo assim ficou como 1º suplente na Câmara Municipal. Em seu Linkedin, Delbons se apresenta como diretor administrativo da Araguaia Distribuidora de Combustíveis SA.

A empresa aparece nos registros da ANP em várias autuações em fiscalizações. De 2020 a 2022, a Araguaia recebeu cinco autos de infração por amostras de biodiesel e etanol irregulares.

Desses, uma foi fraude na mistura de etanol e quatro no biodiesel, usado nos caminhões, carretas e ônibus.

A ANP notificou a empresa oito vezes entre 2019 e 2022. No setor, é muita coisa. Em outro perfil no mesmo Linkedin e com mesmo nome, o cargo de Maurício Delbons surge como diretor na Continental Distribuidora de Combustíveis Ltda.

Além de Maurício Delbons, a Vertex é uma empresa com vários sócios. Mas fontes do mercado de combustíveis garantem que o grupo pertence mesmo a Alan de Souza Yang – ele de novo, o poderoso China.

Maurício confirma que é presidente da Vertex, mas se nega a responder quem são seus sócios ou como conseguiu a licença para operar no mercado de formuladores e distribuidores de combustíveis. E desconversa se conhece o China, claro.

Alan de Souza Yang começou suas misteriosas atividades como dono de postos de gasolina. Após vários flagrantes comercializando combustíveis adulterados, foi alvo de inquérito policial que apontou fraudes em um dos seus postos, o Portelinha, localizado em Sorocaba.

Não foi só ali. Ele foi condenado pela Justiça paranaense por fraude em Maringá (Processo 0027262-28.2015.8.16.0017). A sentença é clara: “Adulteração nas bombas medidoras de combustíveis (…) viciadas pela instalação de componentes estranhos”.

Alan Yang foi condenado por crime contra as relações de consumo e crime contra a ordem tributária. Ele admitiu que o posto era de sua família, que o gerenciava, mas – vejam que curioso – não sabia da adulteração nas bombas.

Já em São Paulo, segundo informações da Secretaria de Fazenda estadual, o Auto Posto Portelinha LTDA teve a sua inscrição estadual cassada em 9 de março de 2010, devido a constatação de adulteração na qualidade do combustível comercializado.

Denunciado pelo Ministério Público estadual, foi processado porque a fiscalização registrou 11 autuações por fraude nos combustíveis revendidos ali.

China aposta alto. A secretaria também cancelou a licença de funcionamento do Auto Posto Cupecê Ltda. Empresa tida no mercado como de Alan Yang, também teve essa Inscrição Estadual cancelada em 21 de junho de 2016.

Durante a epidemia de Covid-19, Alan Yang deu um golpe ousado. Passou a ser importador de combustíveis aproveitando a isenção de impostos em razão da crise concedida por uma decisão liminar da Justiça.

Com esta brecha temporária na legislação, China conseguiu importar gasolina pelo Porto de Santos sem pagar imposto federal. Quando a liminar caiu, China desapareceu.

Essa operação rendeu mais de R$ 1 bilhão em tributos não pagos, segundo fontes do mercado. Ele também foi investigado por crimes fiscais e lavagem de dinheiro.

Ainda que seu nome não apareça, Alan Yang é apontado como controlador e mentor intelectual das fraudes praticadas durante a Covid-19 pelas distribuidoras Petrozil e Saara.

O mercado conhece o China e calcula que ele comercialize de 50 a 70 milhões de litros de combustíveis por mês em gasolina, etanol e diesel.

Sua área prioritária de atuação é São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, com faturamento estimado, acreditem, em R$ 200 milhões por mês. Isso tudo sob a tutela dos órgãos fiscalizadores.