Comportamento

Nasa tenta levar os óvnis a sério

Entre possíveis evidências de vida extraterrestre resgatadas no mar e denúncias de que o governo dos EUA esconde alienígenas, a agência espacial quer dar credibilidade à ufologia

Crédito: Divulgação

Na busca por vida além da Terra, muitos astrônomos veem sensacionalismo (Crédito: Divulgação)

Por Thales de Menezes e Elba Kriss

A especulação sobre vida extraterreste ganhou espaço na mídia nas últimas duas semanas. Os gatilhos para essa repercussão são vários. O astrofísico israelense-americano Avi Loeb exibiu pequenas esferas metálicas coletadas na região do Pacífico Ocidental em que uma bola de fogo vinda do espaço caiu. Para o cientista, a análise do material e suas formas perfeitamente esféricas as caracterizam como partes diminutas de um equipamento tecnológico alienígena. Em Washington, numa audiência no Congresso, David Grusch, ex-funcionário da CIA , disse que o governo esconde corpos de alienígenas, naves e outros artefatos vindos de fora da Terra. Não apresentou provas, mas incendiou as comunidades ligadas à ufologia.

E desses grupos partiu mais uma intensa movimentação: numa live, várias entidades de ufólogos pediram mais rigor do que nunca em denúncias de aparições de discos voadores. Elas temem que, com o desenvolvimento da Inteligência Artificial, o número de fraudes possa crescer exponencialmente, o que derrubaria em muito a credibilidade de sua cruzada.

A pequena esfera que pode ter vindo do espaço motiva equipe de pesquisas que conta com o ex-astronauta Scott Kelly (Crédito:Bill Ingalls)

Diante dessas notícias, a Nasa conseguiu a atenção que sempre procura na imprensa. Bill Nelson, administrador da agência espacial americana, anunciou que ainda neste mês será divulgado um extenso relatório sobre checagem de atividade extraterrestre.

Foi formado um comitê especial de 16 cientistas dedicado à investigação de avistamentos de objetos voadores não identificados. O painel inclui o astronauta aposentado Scott Kelly, escolhido por duas credenciais: participou de quatro missões fora da atmosfera e tem se mostrado uma figura carismática e bonachona no contato com o público.

A questão dos óvnis tem atraído as pessoas há décadas, mas só agora a Nasa parece estar levando a sério a tarefa de investigar esses relatos. Em junho, realizou sua primeira audiência pública sobre o assunto, que contou com depoimentos de pilotos e especialistas, evento que viralizou globalmente.

Até o momento, não foram encontradas evidências sólidas de encontros com alienígenas, com muitos casos sendo atribuídos a erros de identificação de objetos aéreos comuns. A declaração de Nelson sobre a utilização dos sensores científicos no espaço representa uma nova abordagem na busca por respostas.

Muito Ceticismo

Mas o que esperar do relatório que a Nasa divulgará? Para Thiago Signorini Gonçalves, astrônomo na Universidade Federal do Rio de Janeiro, muita especulação. “Não esperamos nada. Não é uma posição minha, mas da grande maioria dos meus colegas. Se houvesse qualquer evidência de vida extraterrestre ou algo do gênero, provavelmente já saberíamos. Qualquer evidência tão dramática seria muito difícil de ser escondida por um determinado período de tempo. Provavelmente, eles querem organizar uma declaração formal para dizer que não há evidências de vida extraterrestre. Não esperaria nada muito além de algo protocolar.”

Laysa Peixoto, cientista brasileira no curso de formação de cadetes da Nasa, que aos 19 anos inventou uma tecnologia para a extração de água lunar, acha que é importante evitar conjecturas infundadas e sensacionalismos. “Encontrar provas extraterrestres seria uma das maiores descobertas da história humana, e deve ser abordada com seriedade e responsabilidade. Compartilho da visão de Carl Sagan de que ‘afirmações extraordinárias exigem provas extraordinárias’.”

O relatório não empolga nem os ufólogos mais fervorosos. Para Jamil Vila Nova, um dos diretores do Instituto Nacional de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais (INFA), a Nasa não soltará uma bomba. “No máximo, falará que encontrou algo em Marte, algum resquício ou algo que indique que houve vida. Já é uma grande coisa.”

Para ele, os indícios podem vir de fontes não ligadas à agência espacial. “Vários tipos de seres e raças visitam ou visitaram a Terra. Cada um tem sua especificidade. Tudo já foi fartamente relatado por pesquisas no mundo inteiro por todos os tipos de pessoas: pobres, ricos, militares, civis. Relatos de moradores da roça são os que eu mais confio.”

Uma surpresa no relatório da Nasa poderia ser um aval na busca por vida extraterrestre? “A Ciência terá que reformular muita coisa. Posteriormente, a Igreja terá que mudar muita coisa. Até lá somos a única criação de Deus, não? A ciência falando que a vida inteligente não é exclusiva na Terra? Imagine isso! Mas agora a Nasa não falará nada de estrondoso”, afirma Vila Nova.

Um polêmico caçador de alienígenas

Avi Loeb e os possíveis fragmentos extraterrestres resgatados no mar (Crédito:Divulgação)

Enquanto a Nasa dá atenção maior ao fenômeno de possíveis aparições extraterrestres, um nome surge no cenário científico como o grande caçador de aliens, embora ele ria dessa expressão. Avi Loeb, astrofísico teórico da Universidade Harvard, liderou no mês passado uma expedição no Pacífico, em local próximo à queda uma bola de fogo vinda do espaço em 2014. Ali ele encontrou vários fragmentos e sustenta que pequenas esferas são indícios de um artefato maior, de origem extraterrestre.

Enquanto Loeb se destaca na busca por vida além da Terra, muitos astrônomos classificam suas declarações como sensacionalistas e precipitadas, prejudicando a percepção pública sobre como a Ciência funciona. Apesar das críticas, Loeb permanece confiante e enviou as esferas para análise e datação em laboratórios. Ele diz que as evidências guiarão suas conclusões.