Comportamento

Vinhos: entenda a onda do rosé

Mundo do vinho ganha novo tom com bebida rosada despontando em clima tropical; no Brasil, consumo segue em alta na última década

Crédito: João Castellano

Para a sommelière Patrícia Brentzel, associação com situações prazerosas impulsionou crescimento do consumo (Crédito: João Castellano)

Por Ana Mosquera

De bebida de mulher a vinho de má qualidade, doce, o rosé encarou todo tipo de preconceito no País, e com ele, seus bebedores. Ao lado do espumante, era até rebaixado da categoria por alguns. Por uma série de razões que vão de marketing acirrado a glamour de celebridades investidoras, na última década seu consumo vem crescendo exponencialmente no Brasil. De 2014 a 2018, a importação quintuplicou. Na última década, aumentou mais de mil por cento, segundo a Ideal Consulting.

A curva crescente em território nacional também vai ao encontro das condições propícias à apreciação do produto de aroma delicado e acidez equilibrada, assim como acontece na África do Sul e na Austrália, com os quais o País divide a mesma característica climática.

Na pandemia, o consumo do vinho associado a passeios ao ar livre, como piquenique, parque, praia e piscina, subiu: o último ano terminou com mais de 11 milhões de litros entrando nos portos.

Michel Sá, gerente e sommelier da Grand Cru, conta que as variedades francesas podem custar 33% do valor de um tinto, o que torna favorável a ascensão do estilo em tempos de crise. “Prova do sucesso é conseguir juntar 30 pessoas para degustar três rótulos da Provence em pleno inverno brasileiro”, comenta sobre um evento que realizou recentemente.

Além dos rótulos da região típica, espanhóis, chilenos, argentinos e italianos também se destacam, e pequenos produtores brasileiros vão ganhando visibilidade no cenário nacional. Ao passo em que o conhecimento sobre o vinho se multiplica entre consumidores, a cultura da bebida se estende para novos horários e refeições.

“Há alguns anos, quem pensaria em convidar alguém para tomar um vinho sábado à tarde no Rio de Janeiro? Quebrou-se o preconceito.”
Michel Sá, gerente e sommelier da Grand Cru

A valorização da gastronomia, bem como a preocupação com a origem e a qualidade do alimento, representada por movimentos como Slow Food e “farm to table”, entre outros, também é responsável pela educação do consumidor que passa a se interessar mais e a dar uma chance ao chamado “terceiro vinho”.

Apesar de emergente, ele ainda fica atrás do tinto e do branco e a porcentagem é de 7,9% em território brasileiro, de acordo com a mesma pesquisa.

“Muitos consumidores entenderam a versatilidade de um vinho rosé, que pode ser desde um tipo leve e delicado até um mais encorpado e gastronômico”, diz Patrícia Brentzel, sommelière e consultora. Ela cita a combinação com a culinária asiática, por exemplo.

Boom no Brasil

1/3 Vinho rosado chega a ter 33% do valor do tinto

11 mi É o número de litros importados em 2022

1.000% Importação brasileira cresceu na última década

“Sabe aquela história de que a grama do vizinho é sempre mais verde?”, brinca Patrícia. Só que, no caso, rosa. Um dos motivos para o incentivo à importação do vinho característico da região também famosa pelas oliveiras é o glamour.

O status do rosé alcançou as estrelas. Possuem rótulos próprios, entre Provence e Califórnia, o músico Jon Bon Jovi e o filho Jesse Bongiovi, as atrizes Cameron Diaz e Drew Barrymore, além de Angelina Jolie e Brad Pitt, cuja propriedade em Correns tem sido alvo de disputa judicial após a separação.

Até o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, que não bebe vinho, aderiu à moda investindo em um château ao lado do empresário Stéphane Courbit, e o magnata Bernard Arnault, chefe do grupo LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton), vem adquirindo propriedades, reforçando a possibilidade de o rosé virar produto de luxo.

No Brasil, são os menores que começam a sobressair. “As vinícolas brasileiras estão bem atentas e acho esse movimento bastante promissor. Eu mesma, que trabalho com pequenos produtores, tenho uma grande oferta de excelentes exemplares elaborados com uvas viníferas e também de mesa, como a Isabel”, fala Patrícia.