Comportamento

Família real britânica: de onde vem tanto dinheiro?

O príncipe William abre restaurante e atrai atenção para seus empreendimentos, que faturaram R$ 119 milhões em 2022. O rei também tem seu lado empresário, que arrecadou R$ 164 milhões

Crédito: Hugh Hastings

Dia de inauguração: Príncipe William conversa com garçonetes no átrio de seu restaurante, The Orangery (Crédito: Hugh Hastings)

Por Thales de Menezes

Se é verdade que o dono estar presente o tempo todo é uma chave para o sucesso de um restaurante, os súditos britânicos vão fazer fila para uma refeição no Orangery. O proprietário do empreendimento recém-inaugurado na Cornualha é o príncipe William, herdeiro do rei Charles III. A notícia pode parecer a princípio um tanto estranha, já que há uma percepção geral de que a família real tem uma fortuna incalculável, mas é preciso entender que, sozinho, The Orangery é um negócio de caráter mais simbólico do que efetivamente lucrativo.

O restaurante está em terras que integram o Ducado da Cornualha, um grupo de propriedades reais que inclui fazendas, castelos, imóveis e negócios comerciais em 20 localidades da Inglaterra e do País de Gales. Criado no século 14 pelo rei Edward III, é destinado a prover rendimentos financeiros ao herdeiro do trono.

Até o ano passado, pertencia a Charles, que passou o controle ao filho com a morte da rainha Elizabeth II, o que faz de William o maior proprietário de terras do Reino Unido. Todos os negócios abrigados nelas garantem a ele cerca de R$ 119 milhões anuais. A abertura de um charmoso restaurante, com a presença de William, atrai atenção e visitação para o ducado.

Ao assumir como rei, Charles ganhou uma espécie de “aumento de salário”. Além da coroa, ele herdou da mãe o Ducado de Lancaster, um conjunto de propriedades um pouco menor do que o deixado para o primogênito, mas muito mais valioso.

No ano passado, os negócios estabelecidos nessas áreas renderam R$ 164 milhões ao rei. Curiosamente, Charles e o filho receberam valores recordes relativos a 2022 devido a um dos problemas financeiros mais destacados do Reino Unido, que é a alta elevação dos aluguéis, que gerou um aumento no custo de vida difícil de ser absorvido pela população.

Críticos da família real apontam que esses rendimentos dos ducados deveriam ser suficientes para que os britânicos deixassem de pagar impostos que incluem subsídios para sustentar a monarquia, estimados em R$ 530 milhões anuais.

R$ 130 milhões é o quanto Harry ganhou com sua autobiografia (Crédito:Magali Cohen)

Livres de impostos

As reclamações dos adversários dos privilégios da família real têm outro foco essencial, que é a ausência de cobrança de impostos sobre os valores arrecadados pelos ducados de Lancaster e da Cornualha.

Teoricamente, tanto Charles quanto William estariam pagando um imposto voluntário sobre as arrecadações. Mas não há um comunicado oficial do Palácio de Buckingham sobre isso, o que permite que a imprensa divulgue hipóteses muito disparatadas.

Há quem acredite que os monarcas não repassam um centavo ao fisco britânico, enquanto muitos confiam que Charles e o filho paguem até 45% de imposto sobre o faturamento anual vindo desses portfólios imobiliários.

Entre um valor tão baixo e outro tão alto, completo silêncio nas declarações oficiais. O valor da fortuna da família real é talvez o segredo mais bem guardado da Inglaterra. Uma das estimativas mais confiáveis feitas por estudiosos da realeza aponta algo em torno de R$ 170 bilhões. O valor engloba fortunas pessoais, propriedades e rendimentos de negócios controlados diretamente pelo Palácio de Buckingham.

R$ 164 milhões é a renda anual de Charles, que aluga bairros inteiros (Crédito:Hugh Hastings/Cameron Smith)

Diante desse valor, o patrimônio de Harry, irmão de William que abdicou da condição de membro ativo da família real em 2019, é muito menor. No entanto, ainda impressionante para o mais comum dos britânicos.

Após atritos com o resto da família, Harry e sua mulher, Meghan, mudaram-se para os Estados Unidos levando em suas contas pessoais cerca de R$ 180 milhões. De onde?
* Herança da mãe, a princesa Diana,
* da avó, a rainha Elizabeth,
* de jóias presenteadas ou herdadas,
* e do salário recebido desde sua adolescência como príncipe.

Sua autobiografia, O que Sobra, rendeu a Harry perto de R$ 130 milhões. Mas seu maior rendimento é o contrato com a Netflix, pelo qual recebe R$ 480 milhões por documentários, séries e programas infantis que serão produzidos nos próximos cinco anos. Com quase R$ 700 milhões somados nesses rendimentos, Harry é o filho “remediado” de Charles.