Armas matam; ponto

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Ricardo Kertzman: "Decretos servem para regulamentar as leis, e não para ir de encontro a elas" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Kertzman

Dentre inúmeras políticas em desfavor da paz, dignidade humana e, por que não?, da vida, observadas durante os anos Bolsonaro na Presidência, está a facilitação do comércio, porte e posse de armas de fogo, inclusive de assalto e grosso calibre.

O número de armas registradas para CACs (caçadores, atiradores e colecionadores), por exemplo, saltou de 300 mil unidades para mais de 1.1 milhão nos três primeiros anos do governo passado.

Não há dia em que armamento restrito ao uso militar, domiciliar e esportivo não seja apreendido em mãos de traficantes, fiscalizações de trânsito e mesmo em flagrantes de assassinatos passionais (nas ruas e nos lares de todo o Brasil).

A lei que regulamentou o Estatuto do Desarmamento, aprovada pelo Congresso Nacional, no sentido da restrição do porte – não confundir com posse -, foi completamente desfigurada por sucessivos decretos, assinados por Jair Bolsonaro.

A pulsão por morte, diferente do conceito “pulsão de morte”, desse senhor, é mais do que conhecida. Ou melhor, reconhecida, haja vista suas declarações durante a pandemia ou a frase: “prefiro um filho morto em acidente do que um filho gay”.

Decretos servem para regulamentar as leis, e não para ir de encontro a elas. A cada 24 horas, em 2022, cerca de 500 pessoas obtinham licença para possuir e/ou portar armas. Foram comercializadas mais de 65 milhões de unidades de munição de todos os calibres.

A pulsão por morte é diferente do conceito de “pulsão de morte”

Ao caminhar em direção contrária, através de novos decretos, Lula acerta em restringir a bagunça que tomou conta desse assunto. Dentre as medidas, a transferência da responsabilidade do Exército para a Polícia Federal sobre os CACs.

A própria instituição assumiu ser incapaz de fiscalizar – dispor 12 homens, durante 180 dias por ano – o trânsito de armas e munições em circulação no País. Como permitir a continuidade de algo assim?

Entendam: isso não tem nada a ver com política, partido, esquerda, direita, Lula ou Bolsonaro. Tem a ver com vida. Com a nossa vida! E de nossos pais e filhos. “Ah, Ricardo, só bandido pode portar arma”? Claro que não. Quem está falando isso?

A polícia pode. Os militares podem. Os seguranças profissionais podem. Os trabalhadores expostos ao perigo podem. Os moradores de zonas rurais podem. Mas um bando de valentões, bancando xerifes, não. Armas não são flores. Armas matam. Ideologizar essa questão só serve a dois propósitos: político e criminalidade. O resto é reducionismo bocó e lacração de internet e rede social.