Ministros intocáveis

Crédito: Wenderson Araujo

Wellington, Moser e Nísia: os três ministros que Lula considera assegurados nos cargos (Crédito: Wenderson Araujo)

 

Por Germano Oliveira

Colaboraram Marcos Strecker e Samuel Nunes

Após a confirmação da substituição de Daniela Carneiro por Celso Sabino no Turismo, Lula deu por aberto os trabalhos da minirreforma ministerial. Só não trocou mais gente ainda porque resolveu aproveitar o recesso parlamentar para pensar melhor nas trocas que está sendo obrigado a fazer pelo Centrão.

O PP e o Republicanos exigem mais ministérios para continuarem dando votos para o governo nos projetos indispensáveis para a governabilidade, no conhecido toma lá dá cá imposto pelo Centrão. O fisiológico grupo que domina a Câmara desejava que o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) ocupasse a pasta da Saúde, mas agora já se contenta com o Esportes. O problema é que Lula considera que tanto Nísia Trindade (Saúde) quanto Ana Moser (Esportes) não são “trocáveis”.

Caça-voto

A fome por cargos atinge outro irremovível, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social). Os parlamentares ligados ao presidente da Câmara desejam ter a pasta pois administra o Bolsa-Família, eficiente caça-votos. O PP admite uma divisão na pasta, mantendo-se Dias com os programas sociais e o resto com o Centrão. Janja não aceita.

Portos

Outro ministério cobiçado pelo Centrão é o de Portos e Aeroportos, ocupado por Márcio França (PSB). Para a vaga, já há até candidato, o deputado André Fufuca (PP-MA), pau-mandado de Arthur Lira. Para resolver o impasse, fala-se que Lula pode retirar o Ministério da Indústria e Comércio do vice Geraldo Alckmin (PSB), colocando França em seu lugar.

O queridinho da Faria Lima

Pesquisa feita pela Genial/Quaest junto ao mercado financeiro mostra que Haddad é mais querido na Faria Lima do que Lula, mas os dois ainda perdem para Roberto Campos Neto (BC). De qualquer forma, os executivos financeiros entendem que as coisas estão melhorando. Em março, apenas 10% achavam que o governo estava no caminho certo e agora já são 47% os que acreditam que a economia está melhorando.

Rápidas

* No PL, comenta-se que Bolsonaro está prestes a se divorciar do partido, repetindo o que fez com o PSL. Quando estava no primeiro ano de governo, o capitão abandonou a sigla de Luciano Bivar e aliou-se a Valdemar Costa Neto. Desta vez pode sair sem eira e nem beira.

* Estreia no próximo dia 28 o documentário “Partido”, que conta a trajetória de Fernando Haddad na corrida presidencial de 2018. O filme é dirigido por Sebastián Bednarik e produzido pelo cineasta Fernando Meirelles.

* O Senado aprovou urgência na tramitação do projeto que permite a reestruturação da Funasa. O órgão, extinto por Lula, foi recriado pelo Congresso: o PP e o União Brasil têm pressa para loteá-lo. A corrupção era seu forte.

* As recentes declarações de petistas, como Jacques Wagner, líder no Senado, a favor da permanência de Augusto Aras na PGR, teriam por objetivo manter a governabilidade no MPF. Lula tem outros nomes para o posto.

 

Retrato falado

“Abrir exceções põe por terra ganhos da reforma” (Crédito:Marco Miatelo)

Simone Tebet (Planejamento) disse ao “Estadão” que alterações que elevem a alíquota padrão de impostos estabelecida na Reforma Tributária — que agora será analisada no Senado — podem reduzir ganhos para o PIB. Segundo ela, estudos revelam que a PEC aprovada na Câmara pode gerar crescimento do PIB de 1% ao ano a partir de 2026, mas, com as exceções que podem acontecer no Senado, haverá um aumento da alíquota geral e, nesse caso, o PIB poderá ser reduzido em 0,5% ao ano.

No fim do túnel

Os setores produtivos e, especialmente o presidente da República, esperam o surgimento de uma luz no fim do túnel desde agosto do ano passado, quando o Banco Central elevou a Selic para os atuais 13,75% ao ano. De lá para cá, a gritaria contra a alta taxa de juros tem sido enorme. Só não reclamam os investidores e especuladores que lucram vultosas quantias com os juros altos. Lula tem atacado, sem nenhuma razão, o presidente do BC pela manutenção do patamar da Selic em dois dígitos. Ocorre que se o banco tivesse reduzido os juros antes, a inflação teria explodido e a economia teria ido para o beleléu, como foi na Argentina. O Plano Real teria acabado.

Energia em chamas

Não convidem para a mesma mesa o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e o presidente da Petrobras Jean Paul Prates (PT). Teoricamente subordinado ao ministro, o dirigente da estatal não tolera a presença do colega quando vai a reuniões no gabinete de Lula. Ele deseja ficar a sós com o presidente, mas Silveira não arreda pé.

Cumprindo metas

A beligerância é conhecida no Planalto, mas Lula faz de conta que não entende as razões da discórdia entre os colaboradores. A briga é por poder. Mas Prates vem se mantendo prestigiado. Afinal, tem dado conta do recado, reduzindo os preços dos combustíveis, além de estar garantindo a volta de empreiteiras que haviam sido afastadas da companhia.

Balança, mas não cai

 

O presidente da Embratur, Marcelo Freixo (PT), vem se segurando como pode no cargo. Com a posse de Celso Sabino no Ministério do Turismo, o União Brasil, seu partido, queria a pasta com “porteira fechada”, ou seja, incluindo a agência de turismo. Mas, para preservar a estatal na órbita do partido, Lula tende a dar a Funasa para o União e manter Freixo na Embratur.

Estátua para o BC

Ao invés de tripudiar, Lula deveria construir uma estátua em homenagem a Campos Neto. Mas agora, na reunião dos próximos 1 e 2 de agosto, exatamente um ano depois, finalmente o BC deverá reduzir um pouquinho a Selic. O mercado fala em 0,25%, mas os mais otimistas apostam em até 0,75% ou 1%. A ver.

Toma lá dá cá

Fernanda Melchionna, deputada (PSOL-RS)
As mulheres da esquerda têm sido atacadas nos trabalhos nas comissões. Como resolver isso?
As seis mulheres que estão sendo criminalizadas com a tentativa da extrema-direita de cassar nossos mandatos têm protestado.

É a violência de gênero, que, lamentavelmente, são cotidianas na política.Como vê a aproximação do governo
com o PP e o Republicanos?
Acho grave que esteja se cogitando ministérios para o Centrão. Muitos desses partidos apoiaram as maldades de Bolsonaro.

Nas últimas eleições, os estados do Sul votaram com força na direita. Como reverter isso?
Houve uma diminuição eleitoral de Bolsonaro no Rio Grande. Vencemos na capital e agora vamos seguir a luta para derrotar
a extrema-direita.