Comportamento

Pressão sanguínea: será que a sua também está alta?

O estresse sofrido na pandemia pode ter sido a principal causa de mais casos de hipertensão; Ministério da Saúde recomenda cadastro nos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS)

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Ministério da Saúde indica: maiores de 18 anos devem aferir a pressão arterial ao menos a cada dois anos (Crédito: Istockphoto)

Por Denise Mirás

Em 2006, 22,5% dos brasileiros apresentavam o que se chama de pressão alta. Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão, em 15 anos esses números aumentaram em torno de 4 pontos percentuais, com o total de 2021 chegando a 26,3%. Do que se tem registro, o salto que assusta se deu com a soma de outros 4 pontos em apenas um ano — justamente no período da pandemia: em 2022, já eram 30% do país sofrendo com essa disfunção.

Se ainda não existem causas oficialmente detectadas para esse aumento drástico, muitas das pessoas trancadas em casa e embrulhadas em incertezas sofreram com altos níveis de ansiedade e depressão. Assim, o estresse pode ter sido o fator que mais contribuiu para o aumento do número de brasileiros com pressão alta, mesmo contando com a melhora nos diagnósticos.

Para Victor Matsudo, diretor-científico do Celafiscs (Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul), se ainda não há estudos definitivos sobre tantos brasileiros hipertensos, a causa pode estar no período da pandemia. “Existem estatísticas diferentes, dando conta que 30% a 60% de pessoas atingidas pela Covid-19 agora sofram com algum tipo de seqüela. Já são 51 sintomas catalogados, podendo chegar a 200”, diz o médico.

Mas sobre hipertensão ainda não há estudos conclusivos. “Temos as causas conhecidas. Houve aumento de casos de obesidade, por exemplo, mas nada alarmante. No sedentarismo, a porcentagem do total se mostra estável. Casos a partir de alcoolismo e tabagismo até caíram. A genética, claro, não muda. Então, se não são esses os fatores responsáveis pelo aumento de hipertensos, a suspeita recai sobre o estresse”.

DICAS DO MINISTÉRIO
Para atendimento nas APSs, com informações sobre postos mais próximos e cadastro, além de guia para automonitoramento, as dicas estão nas redes sociais e no site do Ministério da Saúde, com link específico sobre hipertensão: https://tinyurl.com/hipert23. Também pode ser consultado o aplicativo ConecteSUS.

Já está confirmado, segue o médico, que o estresse está presente nas doenças pós-Covid. “Principalmente no trabalho, porque 70% dizem sofrer ou já ter sofrido com medo de perder emprego, da competição entre empregados e da exigência de sucesso. E isso se agravou com menos horas de lazer e atividade física”, afirma Matsudo, destacando que ansiedade e depressão atingem 19 milhões de brasileiros, 13,3% a mais no país entre 2021 e 2022, “o que é muito, mesmo”.

Até abril de 2022 o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) registrava 32 milhões de brasileiros com hipertensão, ou 20% dos cadastrados pela Atenção Primária à Saúde (APS). Foram 29 milhões de atendimentos em 2021 e 45 milhões em 2022, chegando a 14 milhões apenas neste primeiro trimestre de 2023.

O Ministério da Saúde diz ampliar o acesso a serviços da APS, na identificação de HAS (Hipertensão Arterial Sistêmica) e nos cuidados com essas pessoas. O Sudeste teve a maior porcentagem de casos em 2022 (22%), passando a 23% em 2023, ao lado do Nordeste. Por Estados, há mais hipertensos na Paraíba — 25% em 2022 e 26% em 2023, agora junto com Alagoas.