A retórica do populismo fiscal

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Marcos Strecker: "Com a retórica esperta, o governo colhe frutos" (Crédito: Divulgação)

Por Marcos Strecker

É surpreendente como a economia mostra sinais de resiliência mesmo com a insistência do PT em reproduzir políticas fracassadas. O governo Lula gastou R$ 1,8 bilhão em subsídios para automóveis, revivendo por pouco mais de um mês um equivocado programa para “carros populares” (de até R$ 120 mil). Não reindustrializou nada, mas rendeu manchetes e a simpatia da população. Agora, o presidente determinou que a mesma estratégia bem-sucedida seja aplicada aos eletrodomésticos. Ele disse que deseja uma “aberturazinha” para a linha branca. O Ministério da Fazenda está tentando evitar mais esse rombo no Orçamento, mas ordens são ordens.

Além dos subsídios, o museu de bondades revividas parece infinito: moeda comum sul-americana, auxílio a países vizinhos quebrados, a volta da “indústria naval”, loteamento político das estatais, tabelamento (disfarçado) dos combustíveis, recontratação das empreiteiras companheiras pela Petrobras, fim das privatizações, reservas de mercado e créditos subsidiados pelo BNDES. E o PAC 3 já está na fila. Não há verba, então os técnicos estão se virando para achar opções contábeis. O País já viu esse filme antes.

Com um discurso esperto, o governo colhe frutos na economia. Quando os resultados desanimam, basta achar culpados

Com a retórica esperta, o governo colhe frutos. Festejou o crescimento de 1,9% do PIB no primeiro trimestre, como se ele confirmasse a volta da bonança. Mas o resultado foi propiciado principalmente pelo agronegócio (“fascista”, como já declarou o mandatário).

A Reforma Tributária, que nunca foi cogitada pelo PT, está em vias de ser aprovada pelo Congresso oposicionista. E o novo arcabouço fiscal também deve passar, graças a Fernando Haddad (torpedeado pelo petismo raiz). Tem o mérito de tentar diminuir o déficit público, apesar de o governo atrelar esse objetivo a um improvável aumento das receitas. Quando os resultados desanimam, basta achar culpados. A prévia do PIB (índice IBC-Br) mostrou uma queda de 2% no mês de maio.

A explicação veio rápida: a culpa é do Banco Central independente, que insiste em travar a economia com os juros “mais altos do mundo” (o que não passa de uma mentira). Apesar de espezinhado pelo governo, o BC está conseguindo reduzir a inflação. E o PIB continuou crescendo, mesmo com o desastre bolsonarista. A previsão é de expansão de 2% em 2023. São resultados que acontecem à revelia da gestão petista, e não pelo voluntarismo governista. Mas você não verá essa afirmação na propaganda oficial. Essa “narrativa” não interessa.