Comportamento

Futebol feminino: a Copa do Mundo dos recordes

Mundial de futebol feminino começa com recordes de participantes e de investimento, marcas de um evento que tenta se aproximar da equiparação de gêneros entre atletas

Crédito: CHRISTOF STACHE

A lateral-esquerda Tamires, estrela do Corinthians: um dos nomes mais conhecidos da Seleção brasileira (Crédito: CHRISTOF STACHE)

Por Thales de Menezes

O 25 de julho de 2019 foi histórico para o futebol feminino, com a Fifa anunciando uma série de mudanças e investimentos pesados na categoria. Essa movimentação mostra seu grande resultado agora, com o início da nona edição da Copa do Mundo, na Austrália e na Nova Zelândia, recheada de recordes, que vai até 20 de agosto (na abertura, as neozelandesas já conseguiram um resultado inesperado contra a Noruega, 1 a 0, com o maior público de futebol em seu país).

No pacote de determinações da entidade, uma é fundamental para o gigantismo do torneio. Pela primeira vez, são 32 seleções em busca do título, entre elas o Brasil, que até hoje não levantou o caneco, mesmo tendo participado de todas as edições.

No Mundial passado, na França, em 2019, 24 times estavam na disputa. Com isso, o certame atual tem estreantes que ganham destaque no futebol global, como Vietnã, Filipinas, Haiti e Panamá.

Torcedores da Austrália fazem festa para seleção local: uniforme parecido com o do Brasil (Crédito:Daniel Pockett)

Com o aumento de postulantes ao título, outros números da competição também crescem. Seguindo tendência iniciada no Mundial masculino de 2002, disputado no Japão e na Coreia do Sul, o feminino terá de modo inédito dois países sediando o evento.

Esse tipo de colaboração parece dar bons frutos, uma vez que o próximo torneio masculino, em 2026, terá três países como sede: Estados Unidos, Canadá e México.

O número de torcedores presentes aos dez estádios da Austrália e da Nova Zelândia chegará a 1,35 milhão, contra 950 mil nas arquibancadas da França em 2019.

Outra mudança surpreendente para a Copa de 2023 é o valor total que a Fifa destinou a todas as seleções: serão distribuídos US$ 152 milhões (cerca de R$ 730 milhões).

É o mesmo valor estipulado para a Copa dos homens e quase três vezes o total de prêmios pagos no último Mundial feminino. A decisão é parte fundamental da política de equiparação de gêneros no futebol defendida com veemência em praticamente todos os discursos recentes de Gianni Infantino, presidente da Fifa.

Mesmo com todo esse empenho, o dirigente enfrentou um revés inesperado antes do início da Copa: a dificuldade de vender os pacotes de transmissão de TV e internet em vários países.

Ficou evidente a falta de vontade de alguns em pagar os novos preços de licença para exibir a Copa, que, embora fiquem ainda abaixo do certame masculino, tiveram aumento considerável em relação ao torneio de 2019.

Infantino criticou pesadamente as emissoras, apontando discriminação com as mulheres, mas cedeu um pouco nos valores, em negociações não reveladas ao público.

No total, a Copa do Mundo 2023 deve movimentar cerca de US$ 350 milhões, aproximadamente R$ 1,7 bilhão.

O que esperar da seleção

O Brasil tem três jogos na primeira fase da competição, em horários matutinos:

1) estreia na segunda (24), às 8h, contra o Panamá.

2) enfrenta no sábado (29), às 7h, a França, equipe que eliminou a Seleção nas oitavas-de-final em 2019,

3) na quarta (2 de agosto), às 7h, joga contra a Jamaica.

Para esses três jogos, o Governo Federal determinou ponto facultativo para repartições públicas, algo que até então só tinha sido determinado em jogos do time masculino.

A expectativa do público, alimentada por um crescimento do Brasileirão feminino nesta última temporada, com transmissão na TV aberta, está depositada principalmente em duas figuras históricas na categoria nas duas últimas décadas.

O Brasil é treinado pela sueca Pia Sundhage, de 63 anos, ex-jogadora que que se tornou uma técnica de extremo de sucesso, duas vezes medalha de ouro nas Olímpíadas dirigindo o time norte-americano.

Aos 37 anos e seis vezes eleita a melhor do mundo, Marta joga Copa de despedida (Crédito:Vanessa Carvalho)

O outro pilar do interesse popular é, sem dúvida, Marta, eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo. Aos 37 anos, a craque joga no Orlando Pride, dos Estados Unidos, e sua convocação chegou a ser questionada por especialistas.

Sua presença, sem o mesmo vigor físico de outrora, é ao mesmo tempo um tributo a sua história na Seleção e também um incentivo ao grupo de atletas mais jovens. Efetivamente, deve jogar poucos minutos nas partidas do torneio.

Vice-campeã em 2007, quando perdeu da Alemanha na final, a Seleção terá que superar limitações em busca do título inédito. Pelo menos cincos equipes estão num nível superior à brasileira: EUA, Alemanha, Suécia, Holanda e Inglaterra.

Se não conseguir ser campeã, pelo menos uma boa campanha é esperada, pois o País vive a expectativa de sediar a próxima Copa. Depois de se candidatar para esse Mundial que foi parar na Oceania, a CBF abriu mão da disputa, já pensando em concorrer com mais força na escolha da próxima sede.