Comportamento

Alcaraz: a cara da Geração Z do tênis

Os elogios partem tanto de ídolos como Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic, mas também dos jovens adversários: com apenas 20 anos, o espanhol Carlos Alcaraz está pronto para dominar o tênis pelas próximas duas décadas

Crédito: Adrian Dennis

A marca do estilo de Alcaraz: velocidade espantosa nas pernas garante a chegada a cada ponto (Crédito: Adrian Dennis)

Por Denise Mirás

Se aos 12 anos Carlos Alcaraz Garfia sonhava ser campeão no saibro de Roland Garros, como seu ídolo Rafael Nadal, aos 20 ele já tem no currículo o título da quadra dura do US Open e também o da grama de Wimbledon, dois pisos teoricamente mais difíceis para os tenistas espanhóis, criados na terra batida.

Na prática, correram o mundo os épicos cinco sets, que beiraram cinco horas na final do torneio inglês de domingo, contra Novak Djokovic. A derrota do sérvio, com 16 anos a mais de bagagem, atestou o espanhol como “o herói da Geração Z” dos tenistas, pronto para abocanhar títulos e prêmios pelas próximas duas décadas. São tantos os grandes do tênis espantados com Carlos Alcaraz, que basta citar Roger Federer: “Eu nunca enfrentei um jogador como ele, para ser honesto”.

A final de Wimbledon foi uma amostra do que se espera desse mais jovem número 1 do mundo, posto a que chegou com 19 anos, em setembro de 2022.

Pelo título, levou R$ 15 milhões, e até o fim deste ano pode chegar a R$ 200 milhões, quadruplicando seu atual patrimônio.

Corpo perfeito e sorriso aberto ainda levam patrocinadores à fila que já tem Louis Vuitton, BMW, Babolat (empresa de raquetes) e a Legado Ibérico (fabricante de presuntos).

Final de Wimbledon teve cinco horas de duração: mesmo jogando no seu mais alto nível, Novak Djokovic caiu diante do novo número 1 do mundo (Crédito:Sebastien Bozon)

Desde que se profissionalizou aos 15 anos e venceu o ATP Tour do Rio aos 16 — como Nadal —, Alcaraz soma 12 títulos, sendo dois de Grand Slam.

Djokovic adiou o objetivo de Alcaraz de conquistar o título do Aberto da França para o ano que vem, mas o garoto espanhol já arrumou mais um sonho para 2024: tirar Nadal, 37 anos, da aposentadoria, para jogar duplas ao lado dele na Olimpíada de Paris.

Segundo de quatro filhos de Carlos Alcaraz González e Virginia Garfia Escandón, “Carlitos” nasceu em 5 de maio de 2003. Morou, até recentemente, com os irmãos Álvaro, Sergio e Jaime em El Palmar, distrito de Murcia, no sul da Espanha.

O pai, ex-jogador profissional e diretor de tênis do Real Sociedad Club de Campo na cidade, colocou uma minirraquete na mão do garotinho de 4 anos.

E vislumbrou uma carreira para o filho além do futebol, que adora, e do golfe, quando o levou para treinar com o o ex-líder do ranking mundial Juan Carlos Ferrero, na Equelite Sport da cidade de Villena.

Sem limites

Além de técnico, Ferrero se tornou um amigo, diz Alcaraz. Ele garante que viu o potencial do aluno logo de cara, mas percebeu que o amadurecimento do garoto passaria pelo controle do jogo agressivo na hora de administrar seus golpes.

A preparação física de Álex Sánchez e Alberto Lledó levou o “Espaguete” de 1,83m e 75 kg a ganhar outros cinco quilos de massa muscular, para equilibrar o corpo ágil e leve com a força e a potência dos golpes.

Foco e resiliência são trabalhados há anos com a psicóloga Isabel Balaguer. Maria Gimenez González, a namorada que conheceu no clube de Murcia, ficou para trás. Para Alcaraz, seu segredo é treinar 100%, comer de forma saudável e descansar: “Nesses últimos anos, não pulei uma única vírgula dessa fórmula”.

Marcelo Meyer, que passou anos no circuito mundial como treinador de tenistas brasileiros como Fernando Meligeni, diz que Carlos Alcaraz “é de outro planeta”, um fora de série. “Eu nunca tinha visto o que ele está fazendo. É tão rápido na quadra, com tamanha velocidade nas pernas… Em Roland Garros, quando sentiu câimbras no terceiro set, perdeu do Djokovic porque passou dos limites. Tem uma energia e um gás descomunal, e ainda está começando a aprender a dosar a vontade de chegar em qualquer bola”, observa Meyer.

“Em Winbledon, venceu não porque o sérvio estava em um dia ruim, ou algo assim. Pelo contrário. Djokovic estava no mais alto nível de seu tênis. Tanto que reconheceu nunca ter enfrentado um jogador tão forte na vida dele.”

Meyer acredita que Alcaraz será “o cara da década”, mas faz parte de uma geração muito forte e não poderá se acomodar. “Depois de tanto tempo acompanhando Federer, Nadal e Djoko, será muito interessante ver jogos entre diferentes estilos de tênis e temperamentos. Entre os destaques da nova geração estão o italiano Jannik Sinner, o dinamarquês Holge Rune, o norueguês Casper Huud, e os americanos Christopher Eubanks, Taylor Fritz e Francis Tiafoe, todos na faixa dos 20 anos.”