A moda verde e amarelo leva o Brasil para o mundo
Gringos famosos desfilam a tendência Brazilcore; movimento valoriza a estética da periferia, a volta do País ao cenário mundial e a paixão estrangeira pelo verde e amarelo
Por Ana Mosquera
Quem vem ao Brasil sempre quer voltar. Ou ao menos levar o País na mala, no corpo e nas roupas, que tomam ruas e passarelas na Europa e nos Estados Unidos. Brazilcore, uma moda com elementos que remetem à bandeira e ao verde e amarelo, ganha os holofotes.
Diversos fatores levam ao retorno das camisetas, biquínis, shorts e bonés bicolores de tempos em tempos. São, sobretudo, competições esportivas: Copa do Mundo, Olimpíadas, entre outras. Não menos óbvia, porém importante, é a disseminação dos símbolos por Anitta. Ela segue fiel ao estilo periférico, como lembra Cris Rose, figurinista e professora de figurino e styling na FAAP, em clipes, festivais de música e eventos internacionais. Na final da Champions League, maior torneio de clubes no futebol europeu, a cantora subiu ao palco com um conjunto esportivo azul royal em homenagem ao jogador Vini Jr., vítima de racismo.
Depois de terem sido apropriadas por um viés político nos últimos anos, as cores da bandeira voltam a ser usadas com mais tranquilidade no País. Fora dele, seguem como ícones representativos de liberdade e alegria, bem como do renascimento brasileiro frente ao resto do mundo. “Isso demonstra um suporte a uma retomada do Brasil no cenário internacional. Não é só uma tendência do TikTok, mas um apoio da classe cultural e dos criativos a uma nova fase do País”, diz Lorena Borja, professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM. Juntas, as hashtags #brazilcore, #braziliancore e #brazilcorefashion somam mais de 500 milhões de menções nas redes sociais, e viraram “trend” na plataforma de vídeos curtos.
Cada vez que grandes eventos e shows de turnês são alocados por aqui, as vestimentas voltam a aparecer em corpos famosos estrangeiros: a cantora espanhola Rosalía comendo pastel com boné da Misci na cabeça, a estrela britânica Dua Lipa caminhando a caráter pela Lapa e as modelos Tina Kunakey e Emily Ratajkowski esbanjando sensualidade em diferentes cenários da capital carioca.
“Essas pessoas estão se apropriando de que aspectos do Brasil? Da nossa alegria, da liberdade.”
Lorena Borja, professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM
Estudiosa da moda periférica, Cris vê paralelo no fato de Brazilcore ser utilizado por outra minoria. “Quando falamos em periferia, falamos muito pela localização geográfica, mas o que são as periferias da nossa sociedade? É a questão do feminino, por exemplo.” A Copa do Mundo Feminina 2023 começa no próximo dia 20 e deve fazer aumentar as menções às hashtags específicas.
Futebol e cores
Para Cris, o apreço pela estética Brazilcore vai ao encontro de três pilares principais:
* a conexão com o futebol,
* a junção única de cores vibrantes da dupla verde-amarela,
* a energia brasileira.
“Nós somos um povo simpático ao mundo. Não sei se estão olhando para uma estética, mas sim para o calor insuperável que nós temos”, lembra Cris. No fundo, vestir o Brasil é “cool”, legal. Ela brinca: “a estética Brazilcore vira Brasilcool”.
Para além do uso informal das peças por artistas “gringos”, sobretudo europeus e norte-americanos, as cores da bandeira nacional vêm tomando as passarelas em visuais contemporâneos e cheios de estilo em grifes internacionais. O verão do hemisfério norte ganha os tons verde e amarelo.
“A moda de rua é a mais criativa e vai chegar à alta costura”, fala Cris, que vê a oportunidade de mostrar a potência da periferia. Se consumir itens de brechós é visto como “vintage” e sustentável, nas comunidades esses sempre foram espaços vistos como criativos, mas também necessários.
Lorena também vê como positiva a colocação da moda à brasileira entre artistas de renome mundial, das ruas às passarelas. É um modo de valorizar os ícones nacionais.
“Temos muito a capitalizar e ganhar com essa tendência, financeira e culturalmente. E retomar a autoestima do Brasil”, diz.
A tendência estética, ainda que efêmera, tem condições de deixar rastros profundos e positivos na trajetória do protagonismo brasileiro, dentro e fora do País.
“É o futebol feminino, o Brazilcore, a Anitta cantando na Champions League. São expressões do mesmo movimento em diversas frentes”, diz a professora.