Joias de segunda mão: tendência boa para o bolso e o meio ambiente
Mercado de itens de luxo usados une glamour e consumo consciente para quem deseja desfilar produtos valiosos; peças de família perpetuam beleza pelo tempo ou são reformadas num design diferente
Por Ana Mosquera
Sem preconceito contra os usados, joias secondhand ganham cada vez mais o gosto de quem faz questão de ter peças preciosas para adornar o corpo. O comércio dos itens de luxo de segunda mão tem a ver com custo-benefício para quem compra, desapego aos que vendem, mas também com a revisão de uma cadeia que traz prejuízos ao meio ambiente: a da mineração.
Nos Estados Unidos, estima-se que o mercado tenha crescimento anual de 20% nos próximos cinco anos, segundo pesquisa da Boston Consulting Group. Por aqui, iniciativas de comercialização dos acessórios usados ainda não estão estimadas em números. A certeza é que as algumas peças colecionam anos de história.
Fundada em 1958 com o nome Astor, no bairro paulistano do Brás, a atual Orit conta hoje com duas lojas em shoppings da capital. Quase 70 anos depois, os descendentes dos imigrantes poloneses seguem perpetuando “o amor pelo usado”, sempre com o foco na questão ambiental e, cada vez mais, no alcance de um público mais jovem.
“A ideia é não retirar matéria-prima da natureza e reduzir a pegada do consumo. Os itens de luxo são feitos para durar muito, foram criados para passar de geração em geração. É um recurso ativo líquido.”
Nicole Sztokfisz, diretora de marketing e sustentabilidade da Orit, da terceira geração da família
Isso porque muitos clientes encontram na venda das joias de valor afetivo a chance de transformar as próprias trajetórias.
“Comprar itens de luxo usados é uma escolha inteligente. Quem vende circula um item que estava parado no armário e recupera o valor para investir em algo que faça mais sentido, e quem compra economiza 30% ou mais, em relação a adquirir um item novo”, diz Fiorella Mattheis, CEO e fundadora da Gringa, e-commerce de produtos usados de luxo.
Não são raros os casos de pessoas que se desfazem das relíquias para dar entrada em um apartamento, pagar a faculdade dos filhos ou transformar a vida após o fim de um relacionamento.
Peças reformadas
“Nós carregamos tudo o que tocamos com memórias.” A frase da joalheira Mah Rana move Caroline Sindeaux Esmeraldo, designer e professora de joalheira contemporânea no Istituto Europeo di Design.
Dona da marca autoral Sindeaux, possui uma linha chamada Memórias, em que relíquias antigas de amigos e familiares ganham um novo design, próprio e contemporâneo. “Antes de serem artigos de luxo e de status, joias eram acessórios de proteção e luto, e detentoras de memórias de uma vida. Eram passadas por gerações para celebrar e lembrar os ancestrais ou momentos importantes”, diz.
O universo das joias ocupa um lugar particular, de perenidade no imaginário pessoal. “Quando era pequena, colocava joias no fundo da piscina e mergulhava para ‘descobrir’ pequenos tesouros. Eu criava histórias fantásticas sobre cada peça”, rememora a assistente jurídica Bianca Torre.
Apaixonada por pedras desde os sete, estuda gemologia desde os 10. “As joias são como obras de arte, que devem ser apreciadas não só por nós, mas também por quem virá com o fim da nossa existência”, fala. “A joia é um personagem que acompanha a pessoa ao longo da vida”, lembra Claudia Krieger, CEO da Orit.