Brasil

Quem é quem na dança das cadeiras do ministério de Lula

Lula abre as portas do Palácio do Planalto para oferecer cargos ao Centrão, em troca da governabilidade e de maioria no Congresso a partir do segundo semestre: a mini-reforma ministerial deve acontecer até o início de agosto

Crédito: Claudio Reis

Arthur Lira negocia com Lula mudanças no Ministério para abrigar mais gente do Centrão (Crédito: Claudio Reis)

Por Samuel Nunes

Lula quer ter maioria parlamentar para trabalhar num ambiente mais tranquilo a partir de agosto, quando o Congresso retomar as atividades. Para isso, abriu as portas do Palácio do Planalto para negociar e ceder cargos e vultosas emendas em troca de apoio, sobretudo na Câmara, onde passou o primeiro semestre suando frio para conseguir aprovar temas importantes, como a Reforma Tributária, o arcabouço fiscal e a medida provisória que definiu a estrutura da Esplanada dos Ministérios.

Na última terça-feira, 11, durante o programa “Conversa com o Presidente”, exibido nas redes sociais, o presidente comemorou a aprovação da Reforma Tributária e tentou explicar as negociações que tem feito com os partidos do Centrão para ampliar as bases no Congresso.

Como o termo Centrão virou sinônimo de promiscuidade, o petista amenizou o alcance de seu entendimento com os partidos que compõem esse grupo político que domina o parlamento há décadas.

“A gente não negocia com o Centrão. O Centrão não é um partido político. O Centrão se junta sob determinadas coisas, mas habitualmente você negocia com os partidos. Você não negocia com suplente, você negocia com quem tem mandato. Portanto, você tem que estar aberto a conversar”, disse Lula.

Os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) comandam essas negociações.

Há algumas semanas, ambos eram abertamente criticados no Congresso, inclusive por petistas, pela falta de habilidade política nos entendimentos com os parlamentares, mas as reclamações têm diminuído nos últimos dias, sobretudo depois que o governo liberou mais de R$ 7 bilhões em emendas para deputados e senadores, antes da votação da Reforma Tributária.

Os dois têm sido responsáveis pela aproximação de partidos como o PP, o União Brasil e o Republicanos, legendas que até recentemente faziam parte da base aliada de Bolsonaro.

O mandatário segue desconfiado, sobretudo com o partido presidido pelo deputado Luciano Bivar, o União Brasil, que já conseguiu convencer o presidente a trocar a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, pelo deputado Celso Sabino. Porém, a mudança ainda não foi efetivada, pois o chefe do Executivo quer garantias mais consistentes de que a legenda será fiel ao Planalto.

Na terça-feira, Lula reuniu-se com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), para saber até que ponto a sigla está disposta a ceder os votos para o governo.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é outro que também participa das negociações para aumentar o poder do Centrão no governo. Na sexta-feira, 7, depois das sessões que aprovaram projetos de interesse do governo na Câmara, lideranças de várias legendas participaram de um jantar, no Palácio da Alvorada.

Entre os integrantes da comitiva estavam ainda o deputado Elmar Nascimento (União-BA), que deseja ao menos a presidência da Embratur, subordinada ao Ministério do Turismo e que hoje é presidida pelo petista Marcelo Freixo.

As mulheres têm sido até aqui as mais atacadas com pedidos de mudanças na Esplanada montada por Lula. Antes da ministra do Turismo cair, o Centrão conseguiu reduzir os poderes dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, comandados por Marina Silva e Sônia Guajajara, respectivamente.

Apesar de balançarem nos cargos, elas conseguiram se manter, mas tiveram que se resignar com a redução de poderes de seus ministérios diante da dificuldade com que o governo tratou a aprovação da medida provisória que reestruturou a Esplanada.

Ataque às mulheres

Na semana passada foi a vez de a ministra da Saúde, Nísia Trindade, ser o foco das disputas. Lula chegou a garantir publicamente a permanência dela, mas isso ainda pode mudar. Para evitar essa alteração, que gerou desgaste junto à opinião pública, o presidente está disposto a abrir espaço ao PP e ao União Brasil na Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

O órgão foi extinto pelo petista ao assumir o governo, mas acabou recriado na MP dos Ministérios, por decisão do Congresso. A função principal da Funasa é realizar investimentos na área de saneamento básico, sobretudo no Norte e Nordeste.

No entanto, ao longo dos 32 anos de existência, a entidade ficou marcada pelos sucessivos escândalos de corrupção e de serviços mal prestados. Só nos últimos quatro anos, a fundação recebeu cerca de R$ 3 bilhões, mas um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) mostrou que boa parte das obras contratadas não foi entregue.

Depois de a insistência com Nísia falhar, o Centrão voltou os olhos para o Ministério dos Esportes, comandado pela ex-atleta Ana Moser. Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, a ministra foi uma das escolhas técnicas de Lula para o governo.

Mas a falta de experiência na política tem rendido críticas e pedidos para que ela seja demitida e abra espaço ao Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.

Um dos cotados para assumir a função, caso Ana Moser seja demitida, é o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). O pai dele, o ex-deputado Silvio Costa, foi um dos mais ferrenhos defensores de Dilma Rousseff, liderando a oposição a Michel Temer, depois de o impeachment da petista ser confirmado pelo Congresso.

Apesar de o Republicanos ter integrado a base de Bolsonaro, o partido é um dos que almejam ganhar mais espaço em troca de votos. O deputado também sempre se interessou pela pasta, mas Moser garante que Lula vai mantê-la no cargo.

Outra mulher que está na mira dos parlamentares do Centrão é a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano. Funcionária de carreira do banco, ela foi uma das responsáveis por dar andamento às denúncias de assédio sexual contra o ex-presidente, Pedro Guimarães.

Para o lugar dela, o PP tem buscado a indicação de Gilberto Occhi, aliado do presidente da legenda, o senador Ciro Nogueira, e ex-presidente do banco, de 2016 a 2018. Assim como aconteceu nas investidas anteriores do Centrão, as redes sociais se inflamaram contra as eventuais mudanças na Caixa e no Ministério dos Esportes.

Mas não são só as mulheres que estão na linha de fogo dos interesses dos partidos que querem mais espaço no governo. O ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, é outro que tem sido alvo de especulações. A pasta dele é a responsável pela principal vitrine da administração petista, o Bolsa Família.

O ex-governador do Piauí foi eleito senador no ano passado, mas antes mesmo de assumir, já circulava no Congresso em negociações para a aprovação da PEC da Transição, que vários partidos estavam interessados nesse posto, dada à visibilidade que ele impunha nacionalmente por causa dos programas sociais.

Inicialmente, cogitava-se que Dias assumiria a Casa Civil ou algum outro ministério ligado à área política, mas recebeu de Lula a missão mais importante do governo, para reaproximar o PT dos eleitores mais humildes.

Na sexta-feira, 7, a primeira-dama Janja Lula da Silva se reuniu com Dias. Ao final do encontro, divulgou mensagens de apoio ao ministro, quando já circulava por Brasília as primeiras indicações de que ele poderia deixar a pasta. “O coração do governo, a menina dos olhos do Lula está aqui”, disse ela.