O preço de Lira

Crédito: Câmara dos Deputados/Divulgação

Virada: em seis meses, Arthur Lira abandona Bolsonaro e passa a ser o maior aliado de Lula na Câmara (Crédito: Câmara dos Deputados/Divulgação)

Por Germano Oliveira
Colaboraram: Marcos Strecker e Samuel Nunes

É assim no mundo todo. Quando um governo não faz maioria para o Congresso, tem que negociar apoio para garantir a governabilidade. Mas, no caso de Lula, essa base de sustentação está custando caro. Arthur Lira não quer apenas assegurar o posto de “primeiro-ministro” que adquiriu com Bolsonaro.

Está mantendo o petista com a faca no pescoço o tempo todo. Foi assim nos projetos da estrutura ministerial, na aprovação do arcabouço fiscal, na Reforma Tributária e no voto de qualidade do Carf. Lira não quer apenas continuar poderoso. Conseguiu um acordão com o STF, onde o ministro Gilmar Mendes paralisou as investigações sobre os kits de robótica, nos quais está envolvido, e prepara-se para ver sua força política tomar proporções que não haviam sido atingidas até aqui.

Emendas

Para aprovar a Reforma Tributária, Lira cobrou seu preço. Exigiu que as emendas parlamentares voltassem a irrigar as finanças dos aliados. Foram liberadas por Lula mais de R$ 7 bilhões, dos quais R$ 5 bilhões em emendas PIX, que vão direto do caixa da União para as contas de municípios amigos. E a barganha continuará no segundo semestre.

Ministérios

Lira, que já passou o Turismo para Celso Sabino, exige agora que Lula dê mais ministérios a seus protegidos do PP, União e Republicanos. Para o PP, iria a Funasa. Para o União, a Embratur. E, para o Republicanos, o Esportes. Sem contar o fatiamento do Desenvolvimento Social: metade para o Centrão e o Bolsa-Família ficando com Wellington Dias.

O coração do governo

Janja (foto), como se sabe, é mais do que uma simples primeira-dama. Depois de “nomear” ministros e influir em medidas do governo, agora ela quer dar pitacos na reforma ministerial pleiteada pelo Centrão. Na última sexta-feira, gravou um vídeo elogiando Wellington Dias pelo trabalho no Desenvolvimento Social, cuja pasta Lira quer abocanhar. “É aqui que o coração do governo pulsa. É a menina dos olhos de Lula.”

Rápidas

* A eterna ex-ministra do Turismo, Daniela Carneiro, deverá assumir a vice-liderança do governo na Câmara tão logo deixe a Esplanada dos Ministérios. A função foi anunciada por Alexandre Padilha, o mesmo que confirmou que ela seria substituída por Celso Sabino.

* O TC do DF suspendeu os pagamentos a uma empresa investigada por superfaturamento na venda de móveis para escolas de Brasília. O contrato foi de R$ 40,7 milhões, embora os itens custassem somente R$ 21 milhões.

* Henrique Jäger acaba de assumir a presidência da Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. Esta é a segunda vez que assume o cargo, ocupado por ele no governo Dilma, quando a entidade foi alvo de desvios.

* Vigora desde abril o novo Código de Ética do Ministério Público. Produzido pelo Conselho Nacional do MPF, presidido por Augusto Aras, o documento proíbe que procuradores comentem investigações não concluídas.

Retrato Falado

Com a aprovação do “voto de qualidade” que dá ao governo a condição de desempate no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), a Câmara de Lira deu a Fernando Haddad uma potente arma, responsável por manter a “galinha dos ovos de ouro” da Fazenda em movimentações de valores bilionários aos cofres da União. Estima-se a existência de demandas por recursos administrativos em questões tributárias com valores superiores a R$ 1 trilhão, dos quais 130 empresas são devedoras de quase R$ 600 bilhões. Só para este ano, os recursos do Carf podem destinar R$ 50 bilhões para que o governo possa garantir o aumento de arrecadação previsto no arcabouço fiscal.

Vitória de Haddad

O voto do Carf foi derrubado pelo Congresso em 2020 e o atual governo contava com sua reativação para cumprir metas do arcabouço. Lira falava em votar a matéria em agosto, mas Haddad conseguiu aprovar a medida antes do recesso. “A aprovação deu-se pelo trabalho incansável de Haddad”, disse Padilha.

O pai da reforma

Muitos parlamentares contribuíram para a aprovação da Reforma Tributária, como Baleia Rossi, Rodrigo Maia e Aguinaldo Ribeiro, mas ninguém empenhou-se tanto no tema como Bernard Appy (foto), secretário extraordinário de Reforma Tributária do Ministério da Fazenda. Passou anos se dedicando a encontrar uma forma de tornar palatáveis as mudanças fiscais.

Sensação de espanto

O esforço de Appy foi tamanho que no dia da votação da PEC, quinta-feira, 6, ele só arredou pé da Câmara depois das 2h da madrugada da sexta-feira, após a votação final em segundo turno. Em entrevista ao GLOBO, disse que quase não acredita que a reforma foi aprovada. “É uma sensação de espanto. Todo mundo achava ser impossível aprovar.”

Toma lá dá cá

Entrevista com Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém (PA)

Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém (PA) (Crédito:Divulgação)

Como dirigente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), por que o sr. diz que não houve diálogo sobre a Reforma Tributária?
Não estou entre os que dizem que Arthur Lira é democrático
, mas me dou bem com ele. Ao manter o calendário que assumiu para a votação, não abriu espaços democráticos para o debate.

A FNP não participou das discussões em 40 anos que a reforma levou para ser aprovada?
Poderiam chamar os prefeitos e dizer: ‘Olha, a reforma é esta’. O problema é que não fomos tratados com a dignidade que merecemos.

Qual é o motivo de se posicionarem contra a reforma, já que os atuais prefeitos não estarão nos cargos em 2028, quando o texto entra em vigor?
Estamos pensando nos prefeitos do futuro.

“O Ministério é meu e pronto”

A ministra Nísia Trindade (Crédito:Divulgação)
Lula não anda dando muita bola para os políticos do Centrão que estão de olhos esbugalhados para a pasta da Saúde. Depois de semanas de pressão sobre a ministra da Saúde, Lula garantiu, durante a Conferência Nacional de Saúde, que Nísia Trindade é “imexível”. “O Ministério da Saúde é do Lula, foi escolhido por mim e a Nísia ficará até quando eu quiser”, afirmou.