Mulheres sob pressão
Por Thales de Menezes
Faltam poucos dias para o início da Copa do Mundo de Futebol Feminino, na Austrália e na Nova Zelândia. O assunto aqui é a capacidade da mídia eleger – e apostar – em novos heróis. No caso, as heroínas contornaram o mundo e já estão na Oceania, com uma bagagem injusta e incômoda. Depois do fracasso dos homens no Catar, no fim do ano passado, a imprensa carrega nas tintas para enaltecer o time como se o título fosse prognóstico provável.
As pessoas precisam começar a falar a verdade: não é. Não é impossível, mas não será fácil, não é provável. Apesar de ser uma das únicas cinco seleções presentes nas nove edições da Copa, o Brasil chegou perto da taça apenas em 2007, com um vice na China e a consagração de Marta, a grande jogadora brasileira da história. Agora, 16 anos depois, Marta sobrevive entre as convocadas. Para o público que não acompanha de perto o futebol feminino, a surpresa será vê-la apenas em um jogo ou outro, saindo do banco de reservas. Aos 37 anos, ela joga no Orlando Pride, da liga americana, em atuações esparsas.
Como a salvação da lavoura da audiência, a Seleção feminina gera uma exagerada mudança dentro da cobertura esportiva desde o início do ano
A Seleção feminina como salvação da lavoura na audiência gera uma exagerada mudança dentro da cobertura esportiva desde o início do ano. O Brasileirão feminino nunca teve tanto espaço na TV aberta e nos canais por assinatura. As jogadoras convocadas marcam presença em diversos programas, e a imprensa já entrevista seus pais, maridos, mulheres e filhos. Repórteres foram junto com as atletas no avião fretado para a Austrália. Aliás, esse fretamento, comum entre os homens, chega à Seleção feminina pela primeira vez, mais um detalhe a mostrar o upgrade que o time ganha em 2023. Essa cobertura tipo “carrapato”, graduando nas meninas até em suas folgas entre os dias de treino, é recheada de textos ufanistas e até delirantes sobre as chances de vencer a Copa.
Esse clima de “já ganhou” deixou marcas no masculino. Em 1950, na véspera da final contra no Uruguai, a Seleção foi visitada por quase todo mundo que importava na política nacional da época. Depois, a derrota. Em 2006, vindo do penta quatro anos antes, o Brasil tinha um quarteto sem rivais à altura: Ronaldo Fenômeno, Ronaldo Gaúcho, Kaká e Adriano. O time treinou pouco – a ponto de Ronaldo Fenômeno e Adriano se apresentarem para a disputa com mais de 100 quilos cada. Deu no que deu: eliminação para inferior França.
As jogadoras do Brasil são ótimas, mas não merecem o peso de tanta expectativa. O máximo que deveria ser esperado delas é jogar bonito. O resto fica na conta do imponderável.