Cultura

Barbie: brinquedo, marketing, cinema ou estilo de vida?

Havia tempo que uma produção não fazia tanto sucesso antes da estreia. 'Barbie', com Margot Robbie no papel da famosa boneca, vem causando uma explosão na venda dos mais diversos produtos ­— todos eles, obviamente, cor-de-rosa

Crédito: Divulgação

Margot Robbie como Barbie: escolha indiscutível para o papel (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

Bem-humorado e colorido desde a concepção, o projeto do filme Barbie teve início em 2018, quando a Warner Bros adquiriu os direitos da empresa Mattel. Quando Margot Robbie e Ryan Gosling foram anunciados no elenco, ninguém estranhou. Linda, loira e com o corpo escultural, a atriz australiana é o protótipo perfeito da boneca mais famosa do mundo.

Embora tenha participado de filmes mais sombrios, entre eles Blade Runner 2049 e Drive, Gosling também não foi nenhum choque: o galã precisaria apenas clarear as madeixas para interpretar com maestria o eterno namorado da boneca perfeita. A surpresa veio quando foi divulgada a dupla criativa por trás do projeto: a diretora Greta Gerwig e o roteirista Noah Baumbach, ambos indicados ao Oscar, formam um casal também na vida real. Mas muitos fãs se perguntaram: qual será a visão que Gerwig, feminista famosa por produções como Lady Bug e Little Women, e Baumbach, autor do melancólico História de um Casamento, vão apresentar sobre a boneca que já foi símbolo da mulher-objeto e do consumismo?

O filme de US$ 100 milhões tem o seu valor artístico, mas também pode ser visto como um belo investimento de marketing da Mattel, empresa que lançou a boneca no mercado há 64 anos. Faz muito tempo que se planeja um filme da Barbie, mas o risco de comprometer um produto tão popular sempre falou mais alto. As vendas em queda e a falta de engajamento com o público jovem aceleraram a decisão de levar a personagem às telas.

É aí que entram Greta Gerwig e Noah Baumbach: o talentoso e descolado casal era a escolha perfeita para dar credibilidade ao projeto, amansar a crítica e conquistar as novas gerações.

Greta Gerwig e Noah Baumbach: diretora e roteirista são casados na vida real (Crédito:Gareth Cattermole)

O enredo de Barbie é simples, mas tem seu charme. Ela e Ken vivem na Barbielândia, lugar impecável onde os dias são sempre felizes, tudo é rosa e a vida é de mentirinha. Quando coisas estranhas começam a acontecer, Barbie e Ken decidem viajar ao “Mundo Real”, onde irão conhecer “a verdade sobre o universo”. Quando chegam em Los Angeles, descobrem que existem roupas de outras cores (além de rosa) e que nem tudo é perfeito. Esse choque entre a terra da fantasia e a realidade acende um alerta na Mattel ­— sim, a própria empresa faz parte do roteiro —, que fica desesperada para colocar a boneca e o namorado “de volta à caixa”.

Há tempos um filme não provoca reação tão grande fora das telas. A “barbiecore”, como é chamada a paleta de cores relativa ao figurino e aos cenários do filme, entrou na mira de projetos de decoração e design em todo o mundo. Segundo o site Pinterest, usado para referências visuais, a pesquisa por “quarto com estética Barbie” aumentou mais de 1000% no último ano.

Ryan Gosling interpreta Ken: tom cômico inédito na carreira do ator (Crédito:Divulgação)

Esse exagero kitsch é parte do movimento “maximalista” que veio para se opor ao minimalismo vigente nos últimos tempos. Os admiradores mais dedicados vão poder ate mesmo ficar hospedados na cobiçada locação: a plataforma de Airbnb disponibilizou em seu catálogo uma casa interamente rosa, localizada em Malibu, na Califórnia. No Brasil, grandes redes varejistas já colocaram à venda coleções temáticas que vão além das roupas e calçados, chegando a lençóis, almofadas e utensílios de casa.

No Mercado Livre, as buscas por temas relativos ao filme cresceu 137% nos últimos três meses, em comparação com o mesmo período no ano passado. Todo esse sucesso, antes mesmo da estreia, mostra que Barbie deixou de ser um simples brinquedo — e virou um estilo de vida.

Da prateleira para as telas

A ideia de transformar brinquedos em cinema não é nova. Do clássico soldado GI Joe aos carros-robôs de Transformers, roteiros inspirados em produtos de sucesso costumam garantir bom público nas bilheterias.

Lego: franquia inspirada nos alegres bonequinhhos atraiu o público jovem (Crédito:Divulgação)

Os filmes da Lego, franquia iniciada em 2014 e inspirada nos animes japoneses, viraram campeões de audiência. A própria boneca da Mattel já havia estrelado a animação Os Diários de Barbie, exibida na TV americana em 2006. A empresa gostou do resultado e montou uma estratégia agressiva para levar diversos produtos às telas.

Grandes nomes de Hollywood já estão interessados. Os carrinhos da Hot Wheels estão na mira do produtor J.J. Abrams; o dinossauro Barney tem o aval do ator Daniel Kaluuya; o fortão Vin Diesel se prepara para viver um robô em Rock’em Sock’em Robots. O longa mais aguardado, porém, é o que prevê Tom Hanks no papel do Major Matt Mason, o boneco-astronauta que vive na Lua. A luz verde para todos esses projetos, porém, depende do sucesso de outra cor — a cor rosa-choque de Barbie.