Aos solavancos, adeus adolescência
Por Ricardo Kertzman
Pai ou mãe não gosta de castigar filha ou filho. O ser humano nasce e, em tese, ao menos na maioria dos casos, cresce e morre dotado de sentimentos nobres como empatia, solidariedade, carinho e amor. Não, não considero o Brasil um filho, até porque, confesso, faço parte daqueles que não caem na vala comum do patriotismo.
Aliás, sobre o tema, nunca é tarde lembrar a frase “o patriotismo é o último refúgio do canalha” (Samuel Johnson, 1709-1784). Não há porque confundir coletivismo, urbanidade, enfim, espírito colaboracionista, visando ao desenvolvimento e ao bem-estar comum de uma nação, com ufanismo vazio, típico do populismo rasteiro predominante nesses trópicos.
Sim, gosto do Brasil, apesar de amar detestá-lo, hehe. Meu caso de amor e ódio com Banânia transcende a razão. Fato é que, entre o “ame-o ou deixe-o”, escolho nenhum dos dois. Fico e critico. E não, caros extremistas de plantão, não vou para Cuba ou Venezuela. Mas vamos ao que importa, pois já me alonguei demais, como de costume.
Crescer dói e amadurecer, mais ainda. Nossas “dores do crescimento” são expostas a cada grave crise institucional
A democracia brasileira é relativamente jovem. Se não mais uma criança, uma adolescente. E como tal, em fase de amadurecimento, erra mais do que acerta, o que vale dizer, faz bobagem, algumas, inclusive, com repercussões muito sérias, que, além de danos quase irreparáveis, atrasam sobremaneira o crescimento.
Nenhuma sociedade e nenhum, acredito, poder constituído, no caso, o Judiciário, gosta de punir um político ou governante. Nenhum juiz, desembargador ou ministro orgulha-se de mandar prender uma autoridade. E ainda que merecidamente muitos sejam punidos, magistrados responsáveis sabem o dano institucional que isso representa.
Ao tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível, a despeito de todo merecimento e compreensível deleite de muita gente – inclusive desse que vos escreve -, é certo que não dá gosto. Como pode ser benéfico a um País, com mais de 30 anos de redemocratização, impedir uma presidente (Dilma), “obrigar” a renúncia de outro (Collor), prender dois (Lula e Temer) e agora afastar das eleições, até 2030, o último deles?
Crescer dói e amadurecer, mais ainda. Nossas “dores do crescimento” são expostas a cada grave crise institucional. Dar palmadas ou colocar de castigo os filhos, às vezes, machuca mais os próprios pais. E eu, como um pai velho e cansado, confesso: não vejo a hora deste filho, digo País, finalmente crescer.