Comportamento

Robô pode salvar florestas? No Peru, já está salvando

O pequeno YuMi é utilizado em projeto na Amazônia para o plantio de novas sementes em áreas desmatadas. Com boa produtividade, ONG tenta aumentar instalações para abrigar mudas

Crédito: ABB/Divulgação

O robô YuMi seleciona e enterra as sementes, que passam pelo menos três meses em um viveiro (Crédito: ABB/Divulgação)

Por Duda Ventura 

‘‘Precisamos ser realistas: quem destrói a Amazônia usa tecnologias avançadas. Nós, que queremos preservá-la, temos que usar artifícios mais avançados ainda”. É com essa linha de pensamento que Mohsin Kazmi, cofundador da ONG Junglekeepers, justifica a novidade que será utilizada em suas expedições de reflorestamento na Amazônia – o YuMi. Alimentado por energia solar e controlado por wi-fi via satélite desde Vasteras, na Suécia, o robô faz parte de um projeto de reflorestamento amazônico no Peru e é capaz de plantar até 600 sementes em uma manhã, numa área equivalente ao tamanho de dois campos de futebol.

O projeto piloto foi idealizado pela empresa suíça ABB Robotics, que atua em outras áreas como inteligência artificial e automobilismo.

A proposta na Amazônia busca otimizar a produtividade do trabalho antes feito pelos voluntários: Kazmi conta que, para além das máquinas já utilizadas, o enfoque que buscam é a “conservação guiada pelas pessoas”. Nesse sentido, o apoio e a participação das comunidades locais são essenciais.

A contribuição do robô nos trabalhos manuais permitirá que os esforços humanos sejam direcionados para a parte que exige essa interação e conscientização. “As pessoas que moram ali estão protegendo seu quintal. A inclusão delas é fundamental”, explica.

Robô do bem

O YuMi atua numa etapa inicial do reflorestamento. Capaz de selecionar sementes, abrir buracos na terra e cobri-los, ele trabalha no chamado “berçário das árvores”.

Numa espécie de viveiro, que impede que os insetos entrem mas permite a passagem da luz do sol, essas árvores escolhidas por sua relevância para o ecossistema recebem cuidados por aproximadamente três meses para que se desenvolvam.

Depois, são levadas e plantadas no solo. Com o avanço bem-sucedido do projeto, a Junglekeepers cita o desafio que estão enfrentando no momento: obter mais espaço para conseguir armazenar a quantidade exorbitante de mudas que o robô cultiva diariamente.

Mohsin Kazmi, cofundador da ONG Junglekeepers: “As pessoas que moram ali estão protegendo seu quintal. A inclusão delas é fundamental” (Crédito:Divulgação)

Floresta em perigo

O primeiro contato do CEO com a Amazônia foi na adolescência, aos 19 anos. Por seu interesse pela fotografia de biodiversidade, já havia ouvido os relatos sobre a destruição de regiões inteiras da floresta, mas foi somente quando viajou até o Peru que a urgência do seu projeto ficou clara. “Nos meus primeiros momentos lá, já consegui ouvir tiros, motosserras e todo tipo de barulho de máquinas. Pensei ‘é verdade o que dizem’”.

A escolha do país como base para o projeto piloto não é aleatória: pela geologia da América do Sul, que impulsiona nuvens naquela direção, é ali, nos Andes, onde são formados os principais rios do continente. Abrigando a segunda maior parte da floresta, atrás apenas do Brasil, o desmatamento da Amazônia no Peru já alcança os 8% e afeta todos os ecossistemas ao redor dele.

Como maior exportador de ouro da América Latina e sexto no mundo, as motivações de grande parcela do desmatamento peruano são justificadas pelo garimpo, juntamente com plantações de produtos como dendê e cacau.

Segundo especialistas, mais de 25% da produção anual de ouro no Peru pode ter origem ilegal. E a missão da Junglekeepers de combater os impactos da ação madeireira e mineradora começa de dentro da ONG: o vice-presidente Juan Julio Duran Torres operou como garimpeiro antes de perceber os problemas ambientais que seu trabalho gerava.

“O relato de Juan é a prova de que ainda há tempo para mudança, para nos unirmos nessa causa”, conta Kazmi.

Os muitos trabalhos de Yumi

(Remo Casilli)

O robô da ABB Robotics foi considerado em seu lançamento, em 2015, como um novo patamar no setor de autômatos colaborativos por suas pequenas dimensões. Projetado inicialmente para trabalhar em montadoras lado a lado com os humanos, as funções que já ocupou são muitas.

A mais inusitada foi conduzir a Orquestra Filarmônica de Lucca ao lado do tenor italiano Andrea Bocelli [foto]. Por três peças inteiras, a máquina demonstrou fluidez, direcionando os músicos a partir de movimentos aprendidos previamente com o maestro Andrea Colombini.

Em posição de naturalidade, também conheceu líderes mundiais como Angela Merkel, Barack Obama e Naresh Modi, serviu café em lojas de departamento em Londres e Nova York e marcou presença nos desfiles do Carnaval de São Paulo.

Segundo a empresa idealizadora, ele foi pioneiro na aproximação entre tecnologia e humanos: “Ao ajudar a educar as pessoas sobre como os robôs podem apoiar nosso trabalho, o YuMi preparou o caminho para que os robôs sejam usados em locais de trabalho e fábricas em todo o mundo”.

* Estagiária sob supervisão de Thales de Menezes