Brasil

Lira investigado

O nome do presidente da Câmara, Arthur Lira, vai novamente para o STF. Dessa vez, ele é alvo de inquérito sobre fraude em licitação de kits de robótica destinados a escolas públicas em Alagoas

Crédito: Aloisio Mauricio

Arthur Lira: investigações da operação Hefesto levam nome do presidente da Câmara de volta ao Supremo (Crédito: Aloisio Mauricio)

Por Gabriela Rölke

Durou pouco, muito pouco, o período de calmaria na esfera judicial para o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que livrou-se da condição de réu em uma denúncia por corrupção passiva que desde 2019 tramitava no Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte arquivou a ação na qual ele era acusado de receber, em 2012, propina paga por um dirigente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Mas o surgimento do seu nome nas investigações da operação Hefesto acaba de levá-lo de volta ao STF, agora com o status de investigado em outro esquema de corrupção — o caso dos kits de robótica.

Antes de ter insônia novamente, Lira havia comemorado o arquivamento da denúncia da propina da CBTU: “Tenho a consciência tranquila de que nos 24 anos de atividade política jamais cometi qualquer tipo de transgressão. Fez-se justiça”, postou em uma rede social.

Agora, a Polícia Federal suspeita de que parte do dinheiro que deveria ter sido destinado à educação de alunos de escolas públicas de Alagoas acabou no bolso do poderoso presidente da Câmara.

Com o motorista de Luciano Cavalcante, fiel escudeiro de Lira investigado na operação Hefeso, a Polícia Federal apreendeu uma espécie de livro-caixa com registros de repasses de dinheiro a “Arthur”, que os investigadores suspeitam ser o presidente da Câmara (Crédito:Reprodução/piauí)

Livro-caixa, a suspeita sobre “Arthur”

No centro das investigações estão suspeitas de fraude em licitação na compra dos kits. A aquisição do material por valores superfaturados foi feita por prefeituras de municípios alagoanos com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE) e pode ter causado um prejuízo de R$ 8,1 milhões aos cofres públicos.

O nome “Arthur” aparece em uma espécie de livro-caixa apreendido pela PF no endereço de Wanderson de Jesus, motorista de Luciano Ferreira Cavalcante, um dos principais auxiliares do deputado.

Em tais anotações, há registros de repasses de dinheiro, com valores e datas, referentes a um tal de “Arthur” ­— os investigadores suspeitam se tratar de Arthur Lira.

Ele aparece como beneficiário de cerca de R$ 265 mil, distribuídos em onze repasses. Em 17 de abril, por exemplo, há um gasto de R$ 3,65 mil para “Hotel Emiliano = Arthur”. Quando está em São Paulo, Lira se hospeda do Hotel Emiliano, e no mesmo dia 17 que consta da anotação, o deputado embarcou num avião da FAB de Brasília para a capital paulista. O achado da PF foi revelado pela revista piauí.

Um dos principais auxiliares do presidente da Câmara, Luciano Cavalcante teria recebido recursos desviados (Crédito:Divulgação)

O nome de Luciano Cavalcante, demitido por Lira do cargo de confiança que ocupava na liderança do PP na Câmara um dia depois da deflagração da operação Hefesto, já havia dado o ar da graça em meio a suspeitas de que o ex-assessor e a mulher, Glaucia Maria de Vasconcelos Cavalcante, teriam recebido parte dos recursos desviados por meio da empresa Megalic, que fornecia os kits.

A assessoria de Lira garantiu que “toda movimentação financeira e pagamentos de despesas do presidente da Câmara tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e deputado federal”.

A Polícia Federal investiga a compra superfaturada de kits de robótica para escolas públicas de Alagoas: fraude de R$ 8,1 milhões (Crédito:Pedro Ladeira)
(Divulgação)

Laços de família

Os Lira e os Cavalcante de Alagoas são unidos há gerações. Parece ser uma parceria de sucesso, que passa literalmente de pai para filho. Na política e também nos negócios.

Arthur Lira Filho, 23 anos, é sócio de Maria Cavalcante, 25, na Omnia 360. Juntos, os dois jovens promissores conseguiram R$ 6,5 milhões em verbas de publicidade do Ministério da Saúde.

Arthur Lira Filho dispensa apresentações. Por sua vez, Maria Cavalcante é filha de Luciano Cavalcante, que antes de se tornar braço direito de Arthur Lira havia assessorado seu pai, o então senador Benedito de Lira (PP-AL).

Embora historicamente ligado ao clã Lira, que comanda o PP em Alagoas, Luciano preside naquele estado o União Brasil, que por sua vez domina a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em Maceió.

A empresa, que em Brasília tem sido chamada de “estatal do Lira”, é uma verdadeira mãe para as duas famílias.

O superintendente, Jorge Ferreira Cavalcante, é irmão de Luciano, e sua mulher, Glaucia Cavalcante, tem um cargo de gerência na companhia. Gláucia é mãe de Maria, a jovem sócia de Arthur Lira Filho.

Quanto aos Lira empregados na estatal, Orleanes Lira coordena o RH da companhia, que também abriga Kyvia Talline Rocha Melo de Lira e Valmir de Lira Paes. Os três são primos do presidente da Câmara.

A enteada Ana Clara Lins Rocha, filha da ex-mulher de Arthur Lira, também está na folha de pagamento. Só dá Lira pra tudo que é lado.