A Ilha Fiscal, onde o baile do Império explica a confusa República, vai ser reaberta ao público
Por Antonio Carlos Prado
No Rio de Janeiro, mais pontualmente na Baía da Guanabara, ou, com maior precisão ainda, na paradisíaca Ilha Fiscal com seu palácio gótico-provençal, reside uma emblemática porção da história do Brasil a explicar a formação da nossa (ainda) tão confusa República. A Ilha Fiscal voltou a ser assunto na semana passada porque após dois anos interditada para reformas em seu majestoso prédio já tem data de reabertura ao público: 8 de julho.
As obras aconteceram, sobretudo, onde eram emergenciais: pilares e vigas de sustentação do piso. Custaram R$ 3,4 milhões. No subsolo do palácio estão cerca de vinte mil peças históricas.
Ao público a visita custará R$ 50,00. Esse é o presente da Ilha Fiscal, que deve seu glamour ao passado — e são ondas desse passado que ajudam no entendimento da vida republicana atual. Em um sábado, 9 de novembro de 1889, em vã tentativa de mostrar firmeza, o Império promoveu suntuosa festa: o famoso Baile da Ilha Fiscal. Consta em A República Cantada, original e inteligente livro de André Diniz e Diogo Cunha, que dom Pedro II tropeçou assim que chegou à ilha.
Não se constrangeu. Brincou: “A monarquia tropeça, mas não cai”. Caiu seis dias depois com a Proclamação da República.
No baile conviveram monarquistas com republicanos, civis com militares — afinal, água na boca não se prende a ideologias. Nas badaladas da meia noite, como definiu o sociólogo Raymundo Faoro, muitos entendiam que o Império estava a esvaecer, poucos entendiam que tipo de República estava a nascer. Nasceu. E está aqui feito esfinge para quem conseguir decifrá-la — por enquanto ela segue devorando.
A filha do tenente-coronel
Líder dos republicanos, o tenente-coronel Benjamin Constant (imagem) se recusou a ir ao baile, mas teve de alugar um barco para que sua filha, Bernardina, apreciasse a festança, mesmo à distância.
Escorregou nas palavras o ministro da Defesa, José Múcio, ao tentar apontar as mazelas decorrentes de o Brasil ser um país com dimensões continentais. Disse o ministro em evento no Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa: “O sonho do pobre do Nordeste e ser pobre no Sul”.
>> Múcio, ainda que não tenha preconceitos, jogou no ar uma frase preconceituosa. Múcio é pernambucano, mas talvez nunca tenha entrado em contato com quem passa fome em seu estado para saber que o sonho do migrante, triste em deixar seus familiares e seu chão, é ter trabalho e pão em outras regiões.
>> O ministro, grau de Grã-Cruz da Ordem do Mérito Militar, deve ler, o também pernambucano, Josué de Castro (1908-1973), autor do clássico livro Geografia da Fome.
>> Josué de Castro é intelectualmente reconhecido em todo o mundo. Foi médico, geógrafo, cientista social, professor e escritor. Para a ditadura militar, comunista.
Os bons resultados da Lei Seca
Pesquisa do Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool (Cisa) aponta a significante queda de 32% no número de mortes causadas por acidentes de trânsito – há 15 anos a chamada Lei Seca era aprovada, seguindo a linha de atuação da OMS em sua estratégia médica de redução de danos no consumo abusivo e nocivo de bebidas alcoólicas.
No Brasil, na última década e meia, passou-se de sete para cinco mortes a cada 100 mil habitantes na relação direta álcool-volante.
Atualmente, autoridades da saúde mudaram de metodologia e substituíram a política de redução de danos pelo denominada tolerância zero. O motorista no qual o bafômetro constate o consumo de um copo de cerveja ou de uma taça de vinho já é considerado infrator. A multa é R$ 2.934,70 — dobra em caso de reincidência.