Luxo discreto, a nova moda das elites
Conhecida como “quiet luxury”, a tendência de estilo minimalista reflete a busca por elegância sem exageros, onde o essencial são as peças básicas e a qualidade dos tecidos
Por Ana Mosquera
Discreto, silencioso e minimalista são algumas das características do movimento que virou a tendência dominante nas últimas temporadas de moda. Intitulada “quiet luxury” — expressão que pode ser traduzida como “luxo discreto” — a nova onda passou a vestir as elites em todo o mundo e foi parar até na TV.
Os figurinos sóbrios da família Roy, os bilionários da série Succession, são um bom exemplo disso. Apesar de sofisticado, o estilo vai muito além da ostentação. Ou melhor: vai até mesmo contra ela.
Apesar do “luxo” no nome e da associação com a vida dos milionários, o gênero tem em sua essência a sustentabilidade, a qualidade e a durabilidade. As famosas bolsas com monogramas, por exemplo, já não fazem mais tanto sucesso quanto o uso de tecidos de alta durabilidade e as práticas sustentáveis de produção. Situações extremas, como a guerra da Ucrânia e as crises financeiras pelo mundo, afetaram os padrões de consumo.
“Quem ostenta hoje em dia está desinformado.”
Empresária Priscila Gimenez, criadora da marca de e-commerce Pierre e Marie.
Durante a pandemia Priscila ampliou sua coleção de pijamas e investiu nas peças de loungewear, atendendo demandas das clientes, ávidas por conforto e discrição. “Não acredito que seja o momento de usar modelos com logotipos enormes. As pessoas elegantes sabem reconhecer as marcas de qualidade e o valor de um produto sem que ele precise chamar a atenção ou saltar aos olhos”, diz a empresária.
Design moderno
“Há marcas que já estavam prontas, só esperando a tendência aparecer”, diz Katherine Sresnewsky, coordenadora do Hub de Moda e Luxo da ESPM.
O estilista Weider Silveiro, há vinte anos no mercado, foi pego de surpresa ao ser incluído entre os representantes do estilo no Brasil. “Eu sempre quis construir uma roupa que fosse duradoura e tivesse um design moderno, mas que fosse verdadeira também”, ressalta.
Para ele, a atemporalidade e a precisão da alfaiataria são tão importantes quanto as referências às raízes e à diversidade que exibe em suas coleções.
Na passarela do último São Paulo Fashion Week, os modelos ajustados ao corpo encontraram cores mais solares e inserções artesanais, como o fuxico, provando que a versão brasileira do gênero pode ser original: “Eu acho que aí está o ‘quiet luxury’ brasileiro. É voltar às raízes, pegar essa tipologia e fazer algo contemporâneo, que desperte desejo e, ao mesmo tempo, mostre muito esmero e cuidado.”
Para Katherine, o estilo deve chegar em breve à grande indústria, por meio da escolha da paleta de cores, tecidos diferenciados ou estampas “mais calmas”. Enquanto marcas renomadas usam o conceito para reforçar suas narrativas, os que escolherem surfar para valer na nova tendência devem encarar desafios: “As marcas precisarão encontrar espaço comercial, para que não afaste sua audiência.” Como se vê, o luxo também pode ser discreto.