Comportamento

Fred Biondi, o golfista brasileiro que segue os passos de Tiger Woods

Fred Biondi sobe no ranking mundial pela Universidade da Flórida e se profissionaliza, superando dificuldades para praticar esporte no País e se tornando inspiração para jovens

Crédito: Sam Greenwood

Busca incansável: Fred Biondi se define como um perfeccionista e acredita que isso o levou a alcançar diversos títulos (Crédito: Sam Greenwood)

Por Duda Ventura 

Um jovem brasileiro vem ganhando destaque em um esporte ainda pouco reconhecido por aqui: o golfe. Aos 22 anos, o atleta Fred Biondi representa o País em torneios universitários nos Estados Unidos. Com vitória em seu torneio mais recente, que o elevou à nona posição no ranking mundial de golfistas amadores, o paulista tomou a decisão de entrar para o ciclo dos profissionais e, hoje, é candidato a uma carreira de sucesso que um golfista brasileiro jamais alcançou.

Sua trajetória no esporte teve início ainda na infância, no Brasil. Com 15 anos, considerando seu destaque e o cenário ainda tímido do esporte no País, optou por se mudar para a América do Norte, onde a cultura é mais enraizada.

“A infraestrutura para golfistas é muito maior nos EUA”, afirma o jogador. Há 111 campos cadastrados no Brasil, sendo a maioria na região Sudeste, no estado de São Paulo, onde os primeiros espaços dedicados ao jogo se estabeleceram graças às imigrações inglesa e escocesa do final do século XIX.

Segundo dados da National Golf Foundation, havia 16 mil campos nos Estados Unidos no final de 2022.

Enquanto há cerca de nove mil jogadores cadastrados por aqui – número que não leva em conta os que jogam em clubes privados –, nos Estados Unidos são mais de 41 milhões. Osmar da Costa Sobrinho, presidente da Confederação Brasileira de Golfe, explica, entretanto, que comparar os cenários é injusto, já que no país norte-americano a cultura do esporte é forte há muito mais tempo. “O que temos com o futebol, eles têm com o golfe. Seria melhor termos como meta nossos vizinhos da América Latina, como a Argentina, que tem 30 mil jogadores.”

Osmar afirma que o esporte está se popularizando cada vez mais no Brasil e indica uma previsão de 12% no crescimento do número de jogadores nos próximos anos. “Estamos com projetos sociais que auxiliarão a aproximar as pessoas do golfe, além dos torneios que organizamos e de atletas como o Fred Biondi, que levam o nome do nosso País para o mundo.”

“Essa ideia de que o golfe é elitizado está entrando em desuso, porque há cada vez mais campos públicos e com acesso tranquilo.”
Osmar da Costa Sobrinho, presidente da Confederação Brasileira de Golfe

Legado de infância

A carreira de Biondi teve início aos três anos, quando dividia o campo com seu avô. No São Paulo Golf Club, obteve algumas vitórias que o levaram a procurar novas oportunidades internacionais.

Entrou para o Circuito Juvenil da Flórida, no qual obteve bons resultados e se manteve por três anos até ser convidado para jogar pela Universidade da Flórida, aos 18, para entrar como bolsista na equipe dos Gators. Um dos principais jogadores da equipe, o brasileiro sempre figurou nas posições mais altas.

O circuito universitário é muito popular nos Estados Unidos, levando os jogadores a torneios profissionais de relevância mundial, como o Aberto dos Estados Unidos eo USA Golf Masters, que renderam prêmios a lendas do golfe. Nessas duas competições, Tiger Woods conquistou o título oito vezes.

Quando fez o ponto da vitória por sua equipe no último torneio individual amador, no final de maio, Biondi se deparou com uma nova porta aberta nos campos de golfe: o direito de participar do circuito profissional, abrindo mão da participação nas competições amadoras.

Aproveitando que o ano de 2022 marcou sua formatura na universidade, o atleta decidiu se profissionalizar a partir do segundo semestre. Nos últimos jogos como amador, terminou em primeiro lugar no pódio. “Vou sentir falta de jogar em equipe, como fazia nos jogos na universidade”, contou em entrevista à ISTOÉ.

Talentos do golfe nacional

Os passos dados por Biondi são semelhantes aos de outros golfistas de sucesso, como Alexandre Rocha, que também participou do circuito universitário norte-americano antes de se profissionalizar. São nomes como esses que inspiram o jovem brasileiro Bento Assis, de apenas 12 anos, que vem chamando atenção por seus prêmios conquistados em campeonatos mundiais infantis.

O talento do atleta mirim já chamou atenção de outras figuras conhecidas no mundo dos esportes, como Ronaldo Fenômeno, seu patrocinador, o jogador de futebol americano Tom Brady e o surfista Kelly Slater, fãs declarados do menino.

Para o garoto, a oportunidade de influenciar os mais novos e aproximar o Brasil da prática deve ser aproveitada. “Sei que o golfe ainda não é muito acessível no Brasil, então, tudo o que eu puder fazer para inspirar as crianças eu farei.”

No rastro de Tiger Woods

Tiger Woods também participou do circuito universitário e se profissionalizou aos 20 anos (Crédito:Divulgação)

Os primeiros passos de Fred Biondi se parecem muito com os da lenda do golfe Tiger Woods. Nascido como Eldrick Woods, o maior golfista da história começou a jogar aos dois anos, tendo sua primeira vitória aos oito, em um torneio profissional.

Como jogador universitário, entre 1994 e 1996, venceu dez provas, além de integrar a seleção norte-americana do esporte. Sua trajetória profissional foi iniciada de maneira inédita e marcante: em 1997, apenas 42 semanas após sair dos torneios amadores, venceu quatro competições do circuito e chegou a número 1 do ranking mundial, tornando-se o mais jovem jogador a atingir o topo da tabela.

Até hoje, já venceu 53 torneios. O percurso, entretanto, não foi tranquilo: em 1994, retirou dois tumores dos joelhos, que voltariam a ser o foco em uma sala de operações, em 2002 e 2008, resultando em uma pausa na carreira.

Já em 2017, durante jantar com outros jogadores, o atleta afirmou não saber se seria capaz de continuar jogando por lesões nas costas, que dificultavam a permanência em pé – desde então, já passou por cinco cirurgias.

Apesar dos problemas de saúde, dos escândalos de sua vida pessoal, como casos extraconjugais, dos rompimentos com técnicos e de ser preso em 2017, acusado de dirigir entorpecido, Woods continuou a quebrar barreiras do esporte: em 2019, aos 43 anos, se tornou o segundo jogador mais velho a vencer  o Masters.

* Estagiária sob supervisão de Thales de Menezes