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A nasa é pop

Agência espacial americana precisa de recursos do governo e quer atrair atenção estreitando relações com observadores de óvnis e visitantes de sua “Disneylândia”, o Kennedy Space Center

Crédito: Nasa

Adultos e crianças no Kenney Space Center: pretensão de ter 2,5 milhões de visitantes por ano (Crédito: Nasa)

Por Thales de Menezes

Na última semana, a Nasa apresentou uma agenda de eventos para atrair atenção popular. A agência espacial americana tenta ampliar o número de cliques na internet, para justificar pedidos de mais recursos financeiros ao governo, e para isso recorre a novas missões no cosmos, interatividade dos internautas e, sempre uma certeza de sucesso na rede, os bons e velhos óvnis.

O grande acontecimento de 31 de maio foi a primeira reunião pública para discussão de objetos voadores não identificados. A Nasa aproveitou a reunião pública para anunciar que substitui a partir de agora o termo “objetos voadores não identificados” por “fenômenos anômalos não identicados”. Os “óvnis” passam a ser “fanis”.

Mesmo sem nenhuma novidade bombástica, conseguiu o intento de ganhar mídia, aproveitando um tema caro à comunidade geek. Com transmissão ao vivo, 16 cientistas da Nasa trocaram informações – e discussões acaloradas – com mais de dois milhões de internautas.

No embalo desse evento, a agência anunciou o ano de 2040 como a “previsão oficial” para o pouso de humanos em Marte. Mais uma vez, como na discussão sobre discos voadores, nenhuma novidade, já que esse prazo aparece em alguns documentos divulgados pela Nasa desde o ano passado, sem estardalhaço.

Já está sendo preparado para setembro um evento multimídia que pretende antecipar os passos das missões americanas até esse pouso tão esperado no Planeta Vermelho.

Convocação aos amadores

O cientista Dan Evans foi categórico no início da reunião: “Quero aqui enfatizar que não existe evidência convincente de vida extraterrestre nos relatos de objetos voadores não identificados”. O que seria um balde de água fria nos caçadores de aliens foi transformado em seguida numa mobilização mundial.

A Nasa defende que precisa de mais informações sobre os avistamentos. Praticamente fez um pedido explícito para que todos colaborem com a coleta de dados, usando até seus celulares. A convocação é uma mudança radical na postura da agência, que durante muitos anos tratou de minimizar a importância de dados reportados por quem não fosse cientista ou militar.

A desatenção a relatos amadores intimidou boa parte das pessoas, que temiam ser ridicularizadas ou classificadas como integrantes de “teorias de conspiração”.

Com a Nasa pedindo ajuda, os aficionados pelo espaço sideral esperam agora o relatório definitivo sobre mais de 140 avistamentos que, mesmo inconclusivo, deve ser divulgado em julho, com o qual esperam obter parâmetros mais precisos sobre detalhes na busca por objetos estranhos no céu.

M-16, batizada de “Nebulosa da Águia”: formação gigantesca de gases é sucesso na rede, onde internautas a chamam de “Godzilla” (Crédito:Divulgação)

Números estratosféricos

144 aparições de óvnis devem fazer parte de relatório oficial

1,5 milhão de pessoas visitam anualmente o Kennedy Space Center

2040 é o ano em que a Nasa quer pousar nave tripulada em Marte

O foco da agência também vai apontar para o público feminino. A missão Artemis II, que parte para a Lua no ano que vem, terá em seu quarteto de astronautas, já em treinamento preparatório, um negro e uma mulher.

De olho no potencial midiático, a Nasa promove no próximo dia 15 o Painel da Mulher no Espaço. As atividades abertas ao público terão participação de astronautas veteranas e novatas e também integrantes do corpo técnico da agência, como designers e analistas de voo.

Frame de vídeo mostra aparição no céu no sul dos Estados Unidos: não há laudo conclusivo para a imagem (Crédito:Divulgação)

Em busca de popularidade (e verbas)

Existem dois bons “termômetros” de popularidade monitorados pela Nasa, e ambos estão recebendo atenção especial. Um deles é a visitação ao Kennedy Space Center, na Flórida, uma espécie de Disneylândia aeroespacial que recebe em média 1,5 milhão de visitantes por ano.

Em 2023, o Kennedy Space Center praticamente dobrou suas atrações interativas, ampliou horários de funcionamento e triplicou o número de produtos licenciados com sua marca.

Ainda neste ano, o objetivo é ultrapassar os 2 milhões de visitantes e continuar a elevar esse número. A previsão otimista é ter 2,8 milhões de turistas anuais até 2028.

O outro indicador de popularidade é site oficial da agência. Suas galerias de fotos e filmes têm mais de 4 milhões de seguidores nas plataformas. Ele passou a ter atualizações maiores e semanais.

Como carro-chefe do conteúdo está a divulgação de imagens obtidas pelos telescópios da agência. Um lote impressionante de imagens de galáxias, supernovas e corpos celestes variados chamou atenção, principalmente a M16, a “Nebulosa de Águia”, uma nuvem de gás e poeira gigantesca que cruza o espaço com um formato que lembra a ave. Talvez se transforme em símbolo de uma Nasa mais pop.