Comportamento

Uma nova origem

Análise genética de 290 pessoas vivas e os fósseis do mais antigo Homo sapiens causam reviravolta sobre evolução e indicam que o homem surgiu da união de diversos grupos na África

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Crânios do Homo sapiens (à esquerda) e do Homem de Neandertal: as duas espécies conviveram na África (Crédito: Divulgação)

Por Alan Rodrigues

É seguro afirmar que o Homo sapiens é muito, mas muito mais velho do que se pensava. Mais que isso. Agora se sabe também que história humana começou como uma colcha de retalhos de povos do continente africano. Essas duas conclusões são resultantes de pesquisas recentes de um grupo de cientistas, capitaneado pelo francês Jean-Jacques Hublin, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, da Alemanha, e Abdelouahed Ben-Ncer, do Instituto Nacional de Arqueologia e Patrimônio, do Marrocos, publicadas na revista científica Nature.

No primeiro achado foram encontrados na aldeia de Jebel Irhoud, Marrocos, fósseis de Homo sapiens, juntos a ferramentas de pedra e ossos de animais, datados de cerca de 300 mil anos.

“Chegou-se à evidência fóssil mais antiga de nossa própria espécie, pelo menos 100 mil anos antes do que se pensava.”
Jean-Jacques Hublin, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva

A segunda descoberta aconteceu por meio de um software aonde foram criadas simulações em larga escala da história humana. Construíram-se cenários de diferentes populações existentes na África, em diferentes períodos de tempo e depois observou-se quais poderiam produzir a diversidade de DNA encontrada nas pessoas vivas hoje.

O estudo genético, com 290 pessoas, apresentou fortes indícios de que a espécie humana evoluiu de trocas entre várias populações ancestrais em diferentes regiões da África. “Uma origem surpreendentemente complexa de nossa espécie, rejeitando o antigo argumento de que os humanos modernos surgiram de um lugar na África durante um período no tempo”, afirma Hublin.


Para o cientista Jean-Jacques Hubkin, descobertas mudam foco dos estudos da evolução (Crédito:Divulgação)

“As descobertas revelam uma história evolutiva complexa da humanidade que provavelmente envolveu todo continente africano”, avalia o pesquisador. “Pensávamos que havia um berço da humanidade há 200 mil anos atrás no leste da África, mas nossos novos dados revelam que o Homo sapiens se espalhou por todo o continente africano há cerca de 300 mil anos”, diz o cientista francês.

Essas conclusões jogam por terra a teoria de que o homem moderno evoluiu em um único “berço de humanidade” num mesmo período, no leste da África. Os cientistas sugerem agora que a espécie evoluiu por todo o continente, de forma muito mais fragmentada do que se pensava.