Comportamento

Impressoras de DNA trazem avanço e perigo

Tecnologia permite aplicação de vacinas personalizadas a cada paciente e amplia armazenamento de dados humanos, mas também pode fabricar armas biológicas

Crédito: Eric Piermont

O cientista Thomas Ybert opera a máquina: genes à francesa (Crédito: Eric Piermont)

Por Thales de Menezes

O tamanho é pouco maior do que um forno elétrico, e quando está desligada, sem luzes, não aparenta ser a máquina revolucionária que é. A impressora de DNA permite criar, modificar e montar a base da vida em meia dúzia de cliques. A fabricação de código genético é um processo desenvolvido desde a década de 1980, mas até agora cerca de uma centena de laboratórios no mundo conseguem ter uma produção regular. Esse genes fabricados são usados para, uma vez inseridos no organismo do paciente, servir como vacina, com chance de oferecer proteções específicas a cada pessoa, administrar terapias também personalizadas e modificar vírus, além de contribuir na obtenção de pesticidas, fertilizantes e produtos biodegradáveis. Na ponta da pesquisa dessas possibilidades estão empresas líderes em biotecologia como as britânicas Nuclera e Evonetix, a francesa DNA Script e a norte-americana Telesis. Mas todo essa ampla aplicação cientíifca carrega também um risco preocupante: é possível usar os recursos para criar vírus letais e outras armas biológicas.

O perigo da produção de DNA patogênico ou tóxico é tamanho que a Nuclear Threat Initiative (NTI), entidade que luta contra as armas de destruição em massa, propõe agora uma diminuição do ritmo da pesquisa na área pelos próximos dois anos. A ideia é que, a partir de agora, todos os laboratórios que lidam com essa biotecnologia comecem a trabalhar juntos na busca de regulamentação para o setor.

É um movimento semelhante à proposta elaborada por desenvolvedores de Inteligência Artifical, numa carta assinada por gigantes do Vale do Silício, amplamente divulgada.

Segundo relatório da NTI, “esses dispositivos de impressão de DNA exigem um novo pensamento sobre a ação dos governos e o desenvolvimento de vigilância compartilhada entre as empresas, para proteção contra a exploração por agentes mal-intencionados ou acidentes catastróficos.”

Jean-François Lutz, pesquisador de DNA: “Ainda não estamos falando de fazer vírus na sua garagem” (Crédito:Divulgação)

O francês Jean-François Lutz, do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França, considera que os riscos imediatos de uma utilização nociva ainda esbarram na dificuldade de se inocular DNA sem ajuda de ações governamentais. “As impressoras simplificam as coisas, mas ainda não estamos falando de fazer vírus na sua garagem.

Uma vez criado o DNA, ele deve ser inoculado nas células. Esse processo requer métodos possíveis aos governos.” O cientista admite que é melhor prevenir do que remediar: “O nosso domínio sobre a vida vai tornar-se cada vez mais significativo.”

Segundo ele, hoje é possível desenvolver nas impressoras filamentos curtos de DNA, mas daqui a dois anos a capacidade desses pequenos aparelhos pode permitir filamentos muito maiores e a criação de vírus completos, com todas as malignidades possíveis.