Choque de realidade

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Ricardo Kertzman: "Não é nem nunca foi do DNA lulopetista a comunhão e a pacificação. Muito pelo contrário. É da gênese do presidente o combate" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Kertzman

Tão logo eleito em 2022, Lula 3.0 prometeu, em discurso otimista e pacificador, novos tempos, novos dias. Quem não te conhece que te compre, amigo. Eu, que o conheço bem, não apenas não acreditei como cravei: duvido.

Não é nem nunca foi do DNA lulopetista a comunhão e a pacificação. Muito pelo contrário. É da gênese do presidente o combate. Foi assim que sempre criou dificuldades para vender facilidades. Quem diz? A história, ué. A vida de Lula e do PT é um livro aberto.

À época, também, eu dizia: foi eleito, sim, mas sem a menor semelhança com os pleitos anteriores. E mais: com mísera fração política do que já foi, sem contar com o Congresso eleito, um dos mais conservadores, ou reacionários, dos
últimos tempos.

Tudo somado e noves fora nada, qualquer observador atento poderia prever a situação atual, precocemente escancarada na fuça da nação. Lula, como de costume, desde o primeiro dia investiu no embate.

O Congresso, é óbvio, investiu no próprio umbigo.

O chefão petista já tretou com o BC, com o Agro, com os bolsonaristas, é claro, e até com os Estados Unidos e a União Europeia

O chefão petista já tretou com o BC, com o Agro, com os bolsonaristas, é claro, e até com os Estados Unidos e a União Europeia por seu posicionamento dúbio e errático acerca da invasão russa na Ucrânia. Tudo em menos de seis meses.

Sob a voz e a caneta de Arthur Lira, seu presidente, a “casa do povo”, em Brasília, não apenas manteve como aumentou suas verbas, privilégios e poder. Lula, repito, precocemente se tornou refém dos anseios nada republicanos do onipresente centrão.
Restam três anos e meio para o fim do governo e já podemos, hoje, contar como serão os próximos meses, quais serão os próximos passos, quanto custará cada proposta enviada à Câmara e ao Senado, enfim, a famosa crônica de uma tragédia anunciada.

Se Lula realmente acreditou que teria vida fácil, vem recebendo, já no café da manhã, sua dose diária de choque de realidade. Pior. Em companhia de Janja, a toda-poderosa primeira-dama que se mete até em nomeação de amigas, hehe.

O fato é que o presidencialismo brasuca, desde a redemocratização, não passa de parlamentarismo mercantilista, se é que me compreendem o termo. Por isso, pouco importa o presidente de turno, já que – como é mesmo? – o arcabouço é sempre igual.
Collor peitou e caiu. FHC comprou e ficou. Lula idem. Dilma tentou e se deu mal. Bolsonaro, coitado, esse jamais entendeu onde estava e o porquê. Lula, em que pese a absoluta falta de ambiente, poderia, já a caminho da aurora, fazer diferente. Mas aí não seria quem é e o que é, ou melhor, sempre foi.