Comportamento

Oceano pacífico tem animais fantásticos, em fauna intocada pela mineração

Pesquisa identificou cinco mil novas espécies que vivem no fundo do Oceano Pacífico, em uma área localizada entre o Havaí e o México. O potencial de exploração das riquezas minerais no local já alerta os ambientalistas

Crédito: Divulgação

Anêmonas, pequenos vermes e animais ainda não identificados: diversidade ameaçada em uma das últimas regiões intocadas pelo homem (Crédito: Divulgação)

Por Mirela Luiz

A Zona Clipperton-Clarion (CCZ), no Oceano Pacífico, se estende entre o México e o Havaí e constitui uma vasta planície submersa a cerca de cinco mil metros de profundidade. Sua área é equivalente ao dobro do território da Índia, ou 80% de todo o bioma amazônico. É considerado um dos últimos ambientes que ainda não foram explorados pelo ser humano. Pesquisas identificaram cinco mil novas espécies vivendo no local. “É uma área profunda que permanece intocada pelos desafios logísticos e a dificuldade para acessá-la.

É por isso que ela abriga tantas espécies ainda desconhecidas pela ciência”, explica a bióloga Danielle Viana, pesquisadora do Departamento de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

A mineração em mar profundo é uma atividade complexa e controversa, que envolve a extração de materiais do leito oceânico. Segundo especialistas, a atividade pode ter graves consequências para os ecossistemas marinhos, principalmente pelo risco de afetar espécies desconhecidas pela ciência. “Governos e mineradoras têm um forte interesse em explorar o fundo do mar do Pacífico, mas lá há muita fauna bentônica (do fundo do mar) que pode ser gravemente intoxicada e até extinta graças a essa exploração”, avalia a oceanógrafa, bióloga e veterinária Renata Gardelin.

Robôs de águas profundas: riquezas e difícil acesso (Crédito:Divulgação)

A região em discussão está repleta de vida, de anêmonas que balançam as suas redes de tentáculos ao sabor das correntes a pequenos vermes semelhantes a minhocas translúcidas, passando por panóplia de esponjas, pepinos-do-mar, estrelas-do-mar, crustáceos e peixes de aspecto estranho.

Das cinco mil espécies encontradas, apenas 438 foram catalogadas. Os autores da pesquisa estimam que existem entre seis mil e oito mil outras espécies ainda por descobrir. “A descoberta tem um impacto que mexe com toda a humanidade, uma vez que boa parte do oxigênio que o planeta necessita vem do fundo dos oceanos”, ressalta Gardelin.

Além da biodiversidade, a CCZ concentra grandes depósitos minerais, especialmente de hidróxidos de ferro e manganês, materiais usados na produção das chamadas ‘tecnologias verdes’ e que são essenciais para a transição energética dos combustíveis fósseis para fontes limpas e renováveis.

A questão está em não se conhecer essas espécies existentes, inclusive o potencial econômico que elas podem gerar. Já existem governos e empresas de exploração de recursos minerais prospectando a área. Mas não podemos explorar sem saber o que estamos perdendo”, explica Ronaldo Christofoletti, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), da Fundação Grupo Boticário e professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Ronaldo Christofoletti, professor da Unifesp: “Já existem governos e empresas prospectando a área. Mas não podemos explorar sem saber o que estamos perdendo”  (Crédito:Fernando Dias)

Esse tipo de mineração em águas internacionais profundas ainda é ilegal, o que limita o planejamento de uma proposta de prospecção futura.

Países membros da Autoridade Internacional para os Fundos Marinhos (ISA), filiada às Nações Unidas, no entanto, têm debatido a possibilidade de tornar legal essa atividade.

O estudo aponta que já existem contratos de exploração com 17 mineradoras em uma área que soma 1,9 milhões de quilômetros quadrados dentro da CCZ. “Podemos ter perda de biodiversidade, de benefícios diretos e indiretos para o planeta. Para a humanidade, a perda é muito maior do que eventualmente a retirada de minerais”, destaca Christofoletti.

Após as novas descobertas, um número cada vez maior dos 167 países membros da ISA está pedindo uma pausa na mineração por conta da falta de dados científicos sobre o impacto potencial nos ecossistemas do mar profundo.

Belezas submersas na costa brasileira

(Divulgação)

O Brasil também tem suas particularidades e beleza intocadas. Descobertas recentes mostram que o mar brasileiro, embora ameaçado pela poluição, pesca predatória, mineração e exploração de petróleo, ainda tem muito a revelar.

No topo de montanhas submarinas perto do Espírito Santo, por exemplo, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) encontraram um novo tipo de recife.

A formação apresenta montes salpicados de vermelho, laranja e amarelo a perder de vista, com alta concentração de peixes grandes. Durante a descoberta foi encontrado um tipo inesperado de recife, formado por serras de até 50 metros que crescem a partir da base.

Ao redor dos morros havia uma grande diversidade de peixes. A área compõe um novo tipo de ambiente marinho, chamado de “colinas coralinas”, em razão das algas calcárias que formam os recifes existentes naquela região.