Rostos ibéricos
Descoberta de esculturas de um dos primeiros povos que habitaram a Espanha revela segredos e misterios da civilização tartessa
Por Fernando Lavieri
Uma recente descoberta de arqueólogos do Conselho Superior de Investigação Científica da Espanha acaba de alterar o entendimento a respeito da civilização tartessa. Eles encontraram as primeiras representações humanas de um dos povos originários da Península Ibérica. Tal sociedade viveu na região entre os séculos VIII e IV a.C. e desapareceu há 2,5 mil anos. Trata-se de rostos esculpidos em tamanho real, em pedra, que foram feitos no século V a. C.
O achado chama atenção pelo fato de a história dos tartassos ainda ser envolta em mistérios. Pensava-se que eles seriam capazes de produzir apenas imagens humanas e de suas divindades combinadas com animais e plantas, jamais representações artísticas de feições complexas. Há registros de seu precário sistema de escrita e de que trabalhavam bem com metais. E também existem aspectos fantasiosos ligados aos tartassos: foram associados ao mito da cidade de Atlântida. “Agora, o povo tartasso estará mais ao lado da história do que das lendas”, pontua Victor Missiato, historiador da Colégio Prebisteriano Mackenzie. Das cinco peças encontradas, duas apresentam imagens bem definidas e com detalhes estéticos comparáveis às produções gregas em período semelhante. O material está sob estudo, mas os arqueólogos já definiram que uma escultura refere-se à representação feminina, provavelmente uma deusa, e, a outra, à imagem de um guerreiro. No detalhe, percebe-se que há brincos, e uma das cabeças foi esculpida com um capacete. “A importância da descoberta é transcendental porque não se conhecia personagens destacados da sociedade tartesica”, afirmou o pesquisador chefe, Sebastián Celestino, à imprensa espanhola .
Atenção e persistência no trabalho são características dos arqueólogos. E, nesse caso, os dois atributos fizeram-se importantes. As esculturas foram encontradas no fundo de um poço hermeticamente fechado e estavam misturadas a ossos de animais. Tamanho trabalho de escavação se deu dentro do sítio tartassiano na Casa del Turuñuelo, situado na cidade de Guarnã, na região sul da Espanha. Os estudiosos dessa sociedade acreditam que era nesse local que os tartassos debatiam os assuntos mais relevantes, como, por exemplo, a política.