Coluna

Adulação a ditadores isola o Brasil no mundo

Visita de Nicolás Maduro a Brasília acende alerta de que presidente brasileiro esteja mais inclinado a reviver sonhos totalitários do passado do que embarcar em soluções factíveis e pragmáticas, como querem novos líderes do mundo

Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Lula e Maduro: presidente brasileiro quer reviver sonho de Fidel Castro no cone sul mas pode estar criando um novo Bolsonaro na região (Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Por Marcos Strecker

Até petistas ficaram incomodados com a adulação de Lula a Nicolás Maduro, o ditador mais sanguinário da América Latina, em Brasília, nesta segunda-feira, 29. O presidente recebeu o venezuelano como grande estrela em uma reunião de peso com todos os chefes de Executivo da América do Sul, um evento preparado para reafirmar a liderança global do brasileiro e reativar a sonho da integração bolivariana. Os sinais são assustadores tanto pela exaltação de ditaduras como pelo irrealismo da visão econômica que embasaria tal integração, um projeto puramente ideológico.

O marco desse sonho passadista seria o relançamento da Unasul, um fórum arquitetado por Chávez e Lula em 2008 para tirar o subcontinente da órbita dos Estados Unidos. Atualmente, nem países governados pela esquerda, como o Chile, topam embarcar nessa canoa furada. Ao contrário, os novos líderes querem soluções factíveis e pragmáticas com o resto do mundo. O Uruguai, por exemplo, afasta-se do próprio Mercosul de olho em um acordo de livre comércio com a China. Por isso, a Unasul ficou de fora do convescote.

Lula acha que Maduro está isolado porque é vítima apenas de uma falsa “narrativa”.  Para ele, os 7,5 milhões de refugiados venezuelanos (boa parte abrigados no Brasil), os crimes contra a humanidade e as dezenas de milhares de vítimas da cleptocracia do seu amigo são apenas uma propaganda norte-americana. Com esse tipo de embasamento, é pouco provável que o encontro de Brasília desperte qualquer reação internacional, além de curiosidade.

A falta de realismo geopolítico e econômico, ao contrário, começa a afastar Lula nos verdadeiros fóruns internacionais, como ONU, que tem em seus princípios a defesa dos direitos humanos e o respeito à integridade territorial das nações, o que Lula deve considerar apenas um direito relativo no caso da Nicarágua, que não admite nem o direito de religião, e da Ucrânia, ocupada e bombardeada diariamente de forma ilegal. É assim que o Brasil quer ganhar um assento no Conselho de Segurança?

A posição hesitante do Brasil em relação à invasão da Ucrânia já diminuiu a relevância do presidente, que teve um papel de coadjuvante no G7, no Japão. Em termos de geopolítica, o Brasil virou um satélite da China, com importância menor do que a Índia, que ainda conversa com Vladimir Putin, mas pelo menos mostra independência em relação ao autocrata russo. Ao invés de unir a América do Sul, como deseja, Lula pode ajudar a fragmentá-la ainda mais. Na Argentina, políticos de extrema-direita crescem na ruína do peronismo, exaltado por Lula. O brasileiro quer reviver o sonho de Fidel Castro no cone sul, mas pode ajudar a criar um novo Bolsonaro na região.