Os dilemas nacionais

Por Marco Antonio Villa

O Brasil tem pressa. Há uma incompreensão de que não é possível resolver os problemas estruturais de forma simples, quase mágica, no sentido mais infantil da expressão. Por outro lado – e pode ser até paradoxal – há um desinteresse de como – no sentido ideológico – é possível enfrentar qualquer um dos graves dilemas nacionais, como
se o debate, a exposição teórica, a comparação com outros países fosse algo absolutamente irrelevante. Isso faz com que a tarefa congressual – locus privilegiado para o bom debate – pareça inútil. O cidadão só concede algum interesse ao Legislativo Federal quando ocorre algum incidente, o que modernamente ficou designado como “lacração.”

Não se sabe as funções da Legislação Federal, para que serve e quais suas atribuições. Isto pode ser apenas um dos fatores – a questão é complexa reconheço. Desta forma, o processo de escolha do seu representante é para o chamado cidadão comum apenas um ato formal, para cumprir uma formalidade, que, no fundo, ele nem sabe a sua razão. Mas, no final, acaba votando em alguém indicado por um amigo, por um terceiro, por simpatia pessoal ou porque imagina que a opção não tem nenhuma importância. Ou seja, despolitiza um dos momentos políticos mais importantes da democracia. O fenômeno não é novo, encontramos exemplos em Atenas, como a aprovação de ostracismo de Aristides numa manobra de Temístocles, relatada por Plutarco, e do desinteresse de um dos votantes na Eclésia. Votou pelo ostracismo, pois estava cansado da discussão e dos elogios recebidos por Aristides, para ele, simplesmente incompreensíveis.

A atual legislatura é uma das piores da nossa história. Isso no momento em que estamos tão próximos do ano 2026, do bicentenário do Parlamento brasileiro

Hoje, quando estamos próximos do 35º aniversário da Constituição Cidadã (salve!), o fenômeno reaparece de forma cristalina. Claro que guardadas as devidas proporções. Grande parte do Congresso Nacional está mais próxima dos beócios do que dos atenienses. Mas o desinteresse, a ignorância e certo enfado da política – na verdade, poucos compreenderam a sua importância nos tempos recentes – conseguiram que a atual legislatura fosse uma das piores da nossa história, isso quando estamos tão próximos, em 2026, do bicentenário do Parlamento nacional. A pergunta mais simples (mas também extremamente complexa) é: onde está a saída? Ou se preferir: como poderemos construir um caminho sólido, firme e seguro, para que o Congresso seja palco de discussões ideológicas, debates de propostas, e possa ser visto e acompanhado como parte fundamental da democracia e do cotidiano do cidadão republicano.