O show da guerra

Por Thales de Menezes

Durante a Guerra do Vietnã, no início dos anos 1970, um grupo de congressistas norte-americanos iniciou um movimento para impedir que jornalistas continuassem a acompanhar as equipes de soldados nos próprios aviões e comboios militares. Segundo eles, os registros eram prejudiciais ao governo, diante da onda de protestos no país. Henry Kissinger, então secretário de Estado e na prática o número 2 do presidente Richard Nixon, tratou de impedir que a ideia seguisse adiante. “Não basta vencer a guerra, você precisa mostrar a guerra”, sentenciou a raposa política.

Algo parecido poderia ser dito agora, em 2023, com relação à operação de retirada dos garimpeiros ilegais no território dos Yanomami. Três meses depois de deflagradas as ações, envolvendo Ibama, Polícia Federal, Exército e representantes de vários ministérios, não existem informações claras sobre o que já aconteceu por lá e o que está se passando. A cobertura praticamente sumiu da grande imprensa nos últimos 45 dias, e só ganhou de novo a mídia agora, com a morte de um indígena e o atendimento a dois feridos, e confrontos armados entre forças do governo e garimpeiros que resultaram em pelo menos mais 12 mortos, com a perspectiva de que outros corpos possam ser encontrados nos próximos dias.

O genocídio indígena e as fotos de adultos e crianças subnutridos renderam comparação com as vítimas dos campos de extermínio nazista

Com as ministras Marina Silva, do Meio Ambiente, e Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas, sobrevoando a região,
foram divulgados alguns números de destruições registradas na operação: mais de 300 acampamentos, 18 aviões, dois helicópteros e dezenas de barcos, balsas, tratores e máquinas de mineração. Em vazamentos anteriores à imprensa, o número de aviões já foi bem maior, chegando a 32 em algumas apurações. Esses dados servem para quase nada sem a posição exata do avanço territorial das forças de retirada.

No final de janeiro e no início de fevereiro, o público foi bombardeado com imagens do genocídio Yanomami,
e as fotos de adultos e crianças subnutridos renderam comparação com as vítimas dos campos de extermínio nazista. Com a chegada do Ibama e outras forças à região, os jornais publicaram as fotos de garimpeiros deixando Roraima a pé, carregando mochilas e recipientes de água, fugindo por trilhas abertas na mata. Depois desse período, pouco mais se viu sobre o conflito entre agentes federais e os garimpeiros. E as informações foram ficando mais escassas.
Ao que parece, os garimpeiros considerados mais “inofensivos” fugiram. Quem ficou por lá integra grupos com mais arrmas, ligados a facções criminosas, o que pode indicar mais sangue por vir. A guerra está lá na Amazônia. É preciso ganhar, e mostrar.