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O Guarani sob a ótica indígena

Inspirada no clássico de José de Alencar, nova versão da ópera de Carlos Gomes teve concepção do ativista Ailton Krenak

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MULTICULTURAL O Guarani: adaptação conta com elenco internacional (Crédito: Divulgação)

Faz 23 anos que a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, foi encenada no Theatro Municipal de São Paulo pela última vez. A partir desse fim de semana, o público assistirá a uma versão bem diferente da obra então apresentada, e ainda mais distante da original, cuja estreia mundial aconteceu no Teatro Scala, de Milão, em 1870. Sinal dos tempos: a nova montagem tem concepção geral do ativista e escritor Ailton Krenak e direção de arte de Denilson Baniwa, ambos de origem indígena. Inspirada no romance de José de Alencar, o enredo narra a história de Cecília, filha de um nobre português que se apaixona por Peri, jovem guerreiro de uma tribo local. “Assumimos o desafio de reunir um coletivo multicultural para revelar outras visões do texto”, explica Andrea Caruso Saturnino, diretora geral do Municipal. O elenco traz artistas internacionais, entre eles a soprano bielorussa Nadine Koutcher (Ceci) e o chileno Enrique Bravo (Peri). A Orquestra Sinfônica Municipal e o Coro Lírico Municipal estarão sob regência de Roberto Minczuk, assim como a Orquestra e Coro Guarani, composto por representantes dessa etnia. “É uma obra de mais de cem anos e é a primeira vez que há pessoas indígenas participando dela a partir de uma perspectiva atual”, afirma o cenógrafo Denilson Baniwa. O espetáculo fica em cartaz até 20/5.

Um olhar original sobre a obra

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As questões de identidade presentes no livro de José de Alencar ganham significado com a participação de representantes indígenas. “A montagem de O Guarani preserva Carlos Gomes, mas atende também ao apelo de Mário de Andrade: ele dizia que era necessário salvar Peri”, afirma Ailton Krenak (foto), responsável pela concepção geral do espetátculo. “Revelamos possibilidades alternativas do libreto à luz de outras leituras.”

Para Ler

A nova obra do português Miguel Sousa Tavares, Último Olhar, aborda com sensibilidade a tragédia da pandemia. A prosa marcante do autor de Equador e Rio das Flores mostra como a luta pela sobrevivência pode burlar os padrões da moralidade.

Para Ver

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Estrelada pelos astros Justin Theroux e Woody Harrelson, a série Encanadores da Casa Branca (HBO Max) exibe
as trapalhadas dos espiões ligados ao presidente Richard Nixon durante
o escândalo de Watergate.

Para ouvir

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Com seu novo álbum, a carioca Mahmundi consolida seu nome como uma das revelações da música brasileira. Amor Fati foi inspirado na expressão criada por Nietzsche que significa “amor ao destino”.

Festival
O mundo inteiro no mesmo palco

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Enquanto eventos como o Lollapalooza e o The Town privilegiam artistas famosos do eixo EUA/Europa, o C6 Fest, em sua primeira edição, surpreendeu pela excelente curadoria e pelo grande número de astros da vanguarda que nunca se apresentaram no País. No line-up estão nomes como o Tigran Hamasyan Trio, da Armênia, Disco Tehran, do Irã, e Mdou Moctar, guitarrista de Níger apelidado de “Jimi Hendrix do Sahara”. Em entrevista à ISTOÉ, direto de Nova York, ele contou que começou a se apresentar ainda criança, após montar sua própria guitarra com madeira e arames de bicicleta: “Tocava em casamentos e piqueniques, até que surgiu o convite para gravar meu primeiro álbum, Anar, em 2008”. Com uma sonoridade exótica e letras em Tamashek, idioma das tribos tuaregue, o disco foi bem recebido nos EUA e lhe rendeu o convite para uma turnê. Moctar ainda mora na África, mas nem sempre conta as novidades para os amigos locais. “Eles não entenderiam”, explicou. O C6 Fest reúne ainda grandes nomes da atualidade, como os alemães do Kraftwerk, pioneiros da música eletrônica, a dupla Underworld e a cantora Arlo Parks, da Inglaterra, e o jazzista norte-americano Jon Batiste. Entre os brasileiros, destaque para Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e Tim Bernardes. O evento acontece no Rio de Janeiro e São Paulo, entre 18 e 21 de maio.

VANGUARDA Os alemães do Kraftwerk (acima) e a banda de Mdou Moctar (de azul), do Níger, estarão no C6 Fest: curadoria de qualidade e artistas ainda pouco conhecidos no País

Teatro
Dois amigos e uma peça premiada

João Caldas

A trama simples do dramatugro Sergio Roveri se tornou peça premiada pela crítica e de grande sucesso popular. Quinze anos depois da sua estreia, quando ficou nove meses em cartaz, a comédia Andaime volta aos palcos com Elias Andreato e Claudio Fontana como protagonistas. A trama acompanha o encontro entre dois limpadores de janelas que filosofam sobre a vida enquanto trabalham pendurados no alto de um arranha-céu. Em curta temporada no Teatro UOL, em São Paulo.

Exposição
Ilusões do mestre venezuelano

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Um dos artistas visuais mais importantes do último século na América Latina ganha retrospectiva na galeria DAN Contemporânea, em São Paulo. Cor, Forma, Vibração celebra o centenário do nascimento de Jesús Soto, escultor, pintor e mestre da arte cinética. A exposição traz 30 obras produzidas entre 1960 e 2000, que Soto chamava de “espaços envolventes”, pois simulam movimento e provocam ilusões de ótica. A curadoria é do francês Franck James Marlot.