Comportamento

Mirante estelar

Segundo maior telescópio do Brasil, Observatório Astronômico no Sertão de Itaparica bate recorde de artigos científicos e se consolida como importante centro de pesquisa de asteroides

Crédito: Chico Rasta

SISTEMA SOLAR Laboratório é berço do projeto Impacton: estudo de pequenos corpos celestes em risco de colisão com o planeta Terra (Crédito: Chico Rasta)

O Observatório Astronômico do Sertão de Itaparica (OASI), localizado no município de Itacuruba, em Pernambuco, foi criado para atender a um projeto científico específico: estudar objetos celestes em risco de colisão com a Terra. O laboratório hoje se consolida como respeitável centro de pesquisa da região Nordeste, com a impressionante marca de mais de 125 artigos científicos publicados ao longo dos doze anos que está em operação. “Não é um observatório voltado para temas mais gerais, como o Laboratório Nacional de Astrofísica. O OASI foi feito para estudar as propriedades físicas de pequenos corpos do Sistema Solar, principalmente aqueles que estão em órbita próximos da Terra”, explica a coordenadora Daniela Lazzaro. Entre outros objetivos, os pesquisadores avaliam o período de rotação e a forma ou índices de cor dessas estruturas, informações cruciais para que se entenda a natureza delas. Com a cúpula de sete metros de diâmetro e 5,5 m de altura, o telescópio completamente automatizado e o espelho de um metro de diâmetro, o local foi erguido para atender ao programa Impacton, abreviação de Iniciativa de Mapeamento e Pesquisa de Asteroides nas Cercanias da Terra do Observatório Nacional. Em outras palavras: o estudo de elementos potencialmente perigosos para o nosso planeta. Mas não há alarmismo: “É importante conhecer as propriedades físicas de corpos que podem vir a colidir com a Terra. Precisamos saber do que são feitos, quais são suas estruturas e coesão. A presença de meteoros é comum e podemos vê-los todas as noites, são fragmentos de asteroides”, explica Daniela. Pioneiro em diversas áreas, o instituto tem outra vantagem: o telescópio é robótico, o que permite que ele seja acessado de forma remota. “Todos os comandos são dados via computador. Posso operá-lo de qualquer parte do mundo”, afirma a professora, que também exalta a importância da localização no sertão pernambucano. “Precisamos de céu aberto e baixa nebulosidade para realizar nosso trabalho. Essa região não tem chuva, as cidades são menores e distantes uma das outras, ou seja, há pouca poluição luminosa. No OASI, em uma noite aberta é possível ver a Via Láctea a olho nu.” Destaque nas principais publicações científicas do mundo, a iniciativa inclui a colaboração em projetos relevantes desenvolvidos pela União Europeia. “Somos reconhecidos internacionalmente e estamos presentes em todos os congressos da área. Compartilhamos esse conhecimento formando alunos de mestrado e doutorado.”

JOIA DO NORDESTE Semana de Popularização da Ciência no Semiárido: evento de 2022 recebeu alunos da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Crédito:Divulgação)

Por ser um laboratório científico a 300 quilômetros de centros urbanos, o OASI não é aberto ao público. No fim de maio, porém, ele reserva um período para a Semana de Popularização da Ciência no Semiárido. As visitas técnicas são parcerias entre a Universidade Federal Rural de Pernambuco e o Instituto Nacional do Semiárido. Segundo Daniela, a curiosidade é enorme: “Os jovens se impressionam com a imponência do local”, diz. Muitos se preocupam se há riscos de objetos gigantescos atingirem o planeta. “Ele não é um telescópio que faz esse tipo de busca, apenas estuda suas particularidades físicas”, afirma Daniela. “Mas acreditamos que todos os asteroides grandes, aqueles que poderiam causar maiores estragos, são conhecidos. E nenhum deles vai colidir com a Terra”, diz. Os alunos – e toda a população – ficam aliviados.