Ele conquistou o mercado

Crédito: Ueslei Marcelino

Inicialmente cercado de desconfianças da banca que via nele mais um agente politizado do PT em uma seara eminentemente técnica e estratégica, o ministro Fernando Haddad, da pasta da Economia, parece ter conquistado de vez a credibilidade junto ao PIB brasileiro. A tal ponto que hoje muitos o vêem como o principal anteparo, verdadeira trincheira de resistência, aos avanços e apetite gastador dos célebres líderes do partido. Haddad foi costurando pouco a pouco esse respeito, com gestos e decisões que demonstravam o seu absoluto compromisso com o equilíbrio fiscal e o controle dos gastos. Ele chegou a encarar brigas abertas de frente com correligionários como a presidente da agremiação, Gleisi Hoffmann, que tentou de todas as maneiras queimá-lo na esfera do governo ainda nas primeiras semanas. A sagração definitiva do novo czar da economia junto a investidores, empresários e banqueiros se deu com a apresentação do projeto do arcabouço fiscal, modelado e embrulhado com amarras ainda mais rígidas do que o esperado na praça. Haddad está em alta e por bons motivos. Agora ele defende uma “meta contínua de inflação”, o que soa como música aos ouvidos dos donos do capital. Na prática, isso pode fazer toda a diferença, monetariamente falando, no campo da política de juros. A meta inflacionária, por esse conceito, não mais seguiria o fundamento do ano calendário. Ela estaria perpetuada numa trajetória mais extensa, com a constante busca de instrumentos para cumpri-la. É um padrão muito seguido em outras partes do mundo e, mais importante, parece ter agradado ao próprio mandatário Lula, hoje absolutamente incomodado com a autonomia e insistência do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de arrochar as taxas ao limite do insuportável, comprometendo o fôlego da economia. Haddad com o seu savoir-faire e sua habilidade está tirando da cartola soluções absolutamente eficazes e de equilíbrio para manter o desenvolvimento do País nos trilhos. E até para moderar os impulsos aguerridos e de reclamações do chefe Lula. Na chamada “Faria Lima”, coração e pulmão dos grandes bancos e corretoras do Brasil, o diagnóstico é claro: Haddad está se saindo melhor do que a encomenda. Ele é tido agora como aliado e, mesmo entre os mais críticos da atual gestão, visto como capaz de dar jeito no histórico déficit do orçamento público da Nação. Haddad faz por onde para ter construído esse status de prestígio em tão pouco tempo junto à elite econômica. Em Brasília ele não para um instante nas seguidas negociações, mesmo com adversários tradicionais do parlamento, e vai abrindo trincheiras decisivas. Para a reforma tributária, por exemplo. Muitos ali dizem que ela só deverá sair dada a forma diplomática e receptiva com a qual o ministro tem tratado o assunto com cada um dos interlocutores e ouvido suas sugestões. Será dele o maior mérito para tal avanço. O presidente da Câmara, Arthur Lira, tradicional opositor do petismo e homem forte do Congresso, anda as mil maravilhas nas conversas com o ministro. Os convivas classificam hoje a relação dos dois como uma “lua de mel”. Sorte para o Brasil que espera há décadas por essa decisiva reforma e que pode agora tomar corpo e ser aplicada graças ao traquejo de um profissional que parece agradar, indistintamente, a todos. Para além de Lula, o ministro é hoje a estrela que mais brilha nessa constelação da nova gestão. Tem empresário que virou defensor atávico de Haddad, em público, e muitos fizeram um cordão de isolamento em torno dele para blindá-lo de ameaças dos colegas na Esplanada dos Ministérios. Pode ser vista como uma vitória sem igual de um quadro do primeiro escalão desse time que assumiu em janeiro último. Igual ao ministro, anteriormente apenas o médico Antonio Palocci havia recebido uma recepção e respeito iguais. Mas Haddad espera não terminar como o antecessor, que acabou acusado de desvios na função. O que pretende agora o ministro é apresentar um pacote de medidas estruturais mais profundo e levar as ideias para discussão com o clube do G7. No horizonte que desenhou, já em 2024 boas novas surgirão, inclusive a do déficit zero, que será uma conquista de derrubar o queixo até dos tradicionais críticos. É esperar para ver.