Comportamento

Doutor Hugo

Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, apresenta a primeira máquina-cirurgiã que tem quatro braços flexíveis. Eles se separam e se juntam, durante a operação, de acordo com a necessidade médica

Crédito: Divulgação

AMBIENTE Tecnologia na sala: maior segurança para o cirurgião (Crédito: Divulgação)

As máquinas estão em evidência. No cinema, por exemplo, um dos campeões de bilheteria, a franquia Transformers apresenta uma guerra entre robôs que são automóveis ou aviões e, em outro momento, assumem forma semi-humana. Sejam físicas ou virtuais, na ficção ou na vida real, elas não param de surpreender. A medicina, intrinsecamente ligada à tecnologia, jamais ficaria de fora de tal movimento. A novidade das novidades, nesse sentido, acaba de ser apresentada pelo Hospital Israelita Albert Einstein, na cidade de São Paulo. Trata-se de um equipamento para realização de procedimentos cirúrgicos. Batizado como Hugo, esse robô-cirurgião, com um quê de Transformers, pesa 1.600 quilos, tem quatro braços mecânicos flexíveis que são capazes de se separar e depois se reagrupar em posições diferentes de acordo com a necessidade médica.

Ele funciona da seguinte maneira: o médico cirurgião se posiciona na mesa de controle, espécie de um cockpit, na qual há uma tela que apresenta imagens 3D do corpo do paciente. Por meio de um console e de pedais, ele movimenta os seus braços. Um deles sempre servirá de câmera de alta resolução diretamente na cavidade e os outros três seguram instrumentais diferentes. As cirurgias robóticas são caracterizadas por permitir maior precisão, mínima incisão — consequentemente menos sangramento, recuperação mais rápida e menor dor. O sistema do Hugo tem todos esses aspectos e muito mais: o visor de 31,5 polegadas permite excelente visualização da cavidade a ser tratada e, ao mesmo tempo, facilita a comunicação entre os profissionais envolvidos na cirurgia, no interior da sala de operações. Toda a equipe tem a sua disposição óculos 3D que possibilitam ver a mesma imagem de quem maneja os controles. A mobilidade dos braços é outro diferencial. Enquanto antigos aparelhos têm de funcionar conjuntamente, os braços de Hugo podem ser utilizados de forma independente. “Os procedimentos cirúrgicos continuam sendo os mesmos, o nosso treinamento é para entender o equipamento. Hoje temos 500 profissionais habilitados a lidar com Hugo”, afirma Nam Jin Kim, diretor médico de Cirurgia Robótica do Einstein.

VISIBILIDADE Novo sistema de controle: melhor interação da equipe (Crédito:Divulgação)

O equipamento também serve como simulador cirúrgico, o que permite treinamento contínuo

Hugo se diferencia de outros dispositivos mais antigos, mas que não perderam o seu valor de uso. A questão da visibilidade que ele proporciona é uma das principais diferenças. Ao utilizar máquinas como, por exemplo, o robô-cirurgião Da Vinci, somente o médico responsável pelo procedimento pode ver com nitidez a parte do corpo a ser operada. Para além das questões operacionais, Hugo facilita treinamentos. O especialista usa o console como simulador de exercício. Também é possível estudar procedimentos cirúrgicos que ficam arquivados nele. “A capacidade de armazenamento de imagem do equipamento enriquece o seu arquivo. O Hugo já é capaz de, em alguns casos, traduzir as informações detalhadamente em gráficos e, assim, o médico pode avaliar o trabalho posteriormente”, pontua Paulo Mathera, gerente de marketing de cirurgia robótica da Medtronic, empresa fabricante.

A primeira cirurgia realizada no Brasil por meio do robô Hugo foi um sucesso. Refere-se a uma retirada de próstata. No País, por enquanto, está liberado o uso da máquina para fazer tratamentos urológicos e ginecológicos, mas há muitos outros em que ela pode ser empregada, como já ocorre em diversos países. Nem Einstein nem Medtronic divulgam o valor do robô, mas o hospital acompanhou todo o desenvolvimento da ferramenta de perto. “O Einstein tem um papel importante no cenário da saúde no País e isso também passa pelos avanços da robótica na medicina”, afirma Sidney Klajner, presidente do hospital. O Einstein está realizando ao menos duas cirurgias por dia com Hugo e os agendamentos não param.