Comportamento

Blazer eterno, mas renovado

De símbolo de poder à vestimenta irreverente. Casaco inglês que se popularizou entre as mulheres com Chanel segue atemporal, mas conectado ao espírito do tempo, ganhando cores e combinações criativas por onde passa

Crédito: Marco Ankosqui

COLEÇÃO Regularidade: o estilista Lorenzo Merlino prefere os clássicos, mas não abre mão do uso da roupa no cotidiano (Crédito: Marco Ankosqui)

Nas ruas, escritórios, festas ou passarelas. Com calça correspondente ou desparceirado. Feito de tecidos convencionais ou menos esperados. Coloridos, estampados ou mais sóbrios. Seja qual for sua variação, o blazer vem se adequando às mudanças do tempo por sua versatilidade e seus significados. Nas últimas semanas de moda e nas grandiosas celebrações da arte e do cinema, a peça compôs desde trajes minimalistas até os mais conectados à chamada moda viral – algo pouco provável de se imaginar quando surgiu na Inglaterra do século XIX para atender a população trabalhadora e majoritariamente masculina.

Foi nas peças de John Redfern, britânico criador do tailleur, que a agitadora Coco Chanel se inspirou para criar seus primeiros modelos e disseminá-los entre as mulheres na década de 1930. “A Chanel foi responsável pela introdução de itens utilitários no vestuário feminino”, diz o estilista e professor da FAAP Lorenzo Merlino. Com a francesa, o casaco ganhou outros cortes e estampas, enquanto a mulher também foi ocupando novo lugar na sociedade. “Vamos nos transformando e a moda vai evoluindo frente aos sinais do tempo. Na década de 1960, o blazer estava inserido no dia a dia da mulher, mas não de forma massificada. É uma peça que ainda tinha alguma resistência, porque nem todas estavam nesse lugar de total liberdade”, comenta Andreia Meneguete, professora do Hub de Moda e Luxo da ESPM.

RECICLADO Versatilidade: casacos da UMA, da estilista brasileira Raquel Davidowicz, podem ser utilizados em conjunto ou sozinhos (Crédito:Divulgação)

É a partir de 1990, com base no conceito de “supermercado de estilos”, que o indivíduo se vê mais livre para ditar as próprias regras e o blazer também adquire outras conotações. “Tanto a mulher quanto o homem passam a usá-lo como querem. Steve Jobs não precisa mais estar com a peça para mostrar poder, que não está só sendo significado na vestimenta ou na imagem. As pessoas começam a ser estilistas de si mesmas e as grifes, a não ter só uma identidade”, fala Andreia.

OUSADA E ELEGANTE Tudo azul: Bruna Marquezine apostou no visual monocromático, mas se diferenciou no tecido e na cor intensa (Crédito:GABE GINSBERG)

Nova linguagem

“Mesmo quando incorpora a permissão que temos no contemporâneo, interpreta-se a uniformidade de cor e material para as duas peças como o que há de mais elegante”, esclarece Lorenzo. Os tapetes da fama não deixam mentir. O rapper Bad Bunny usou um conjunto bordado e branco no Met Gala, Bruna Marquezine desfilou de veludo azul em Hollywood, na estreia de seu próximo filme, e a atriz Kristen Stewart abusou do blazer com short na cerimônia do Oscar. Ainda assim, o broken suit, que é quando as partes de baixo e de cima são diferentes, é bastante comum. Até grandes amantes do casaco, como George Clooney, são adeptos de associá-lo ao jeans, por exemplo. “A liberdade de combinações veio para ficar: é uma macrotendência. Daqui a dez, vinte anos, ela estará ainda mais intensa do que hoje, mas é lógico que existem momentos sazonais”, comenta Lorenzo. As versões oversized, mais largas, o rosa pink de Valentino e as ombreiras, por exemplo, não são eternos em uma moda cíclica. “O blazer é uma peça que não vai sair do guarda-roupa, mas que sempre vai estar contando novas histórias. O signo muda conforme interage com o tempo”, fala Andreia. Ela lembra que a peça ainda é símbolo de poder, inclusive da mulher nos espaços ditos masculinos: “O blazer sempre vai flutuar dentro desse significado, mas ele se movimenta dentro de um contexto social, por isso a peça está sendo sempre desconstruída”.

IMPONÊNCIA Marca registrada: George Clooney é adepto do item, seja em conjuntos uniformes ou com jeans em momentos casuais (Crédito: Anette Nantell)

Não é só na modelagem que as roupas se conectam com os tempos atuais. Uma das linhas da marca brasileira UMA usa a fibra sustentável Naia™, feita com polpa de madeira e insumos de resíduos reciclados, no lugar do tradicional acetato. “Trazer uma matéria-prima de alta qualidade e sustentável faz com que o produto tenha uma proposta responsável, que é o que o consumidor atual procura. Em termos de modelagem, não há grandes alterações, pois o comportamento dos tecidos é igual”, explica a fundadora e estilista, Raquel Davidowicz. A busca atual pelo minimalismo também contribui para o novo momento da peça. “O blazer está sendo uma resposta mais segura e confortável para se viver algo que não precisa transitar tanto entre modas e fashionismos”, acrescenta Andreia.

FORA DO PADRÃO Short e camisa aberta: look de Kristen Stewart no Oscar comprova a adaptação do item ao contemporâneo (Crédito:AFF / Alamy / Fotoarena)