Apostando contra o ex-presidente

Um amigo que não aparecia há algum tempo me enviou uma mensagem simpática, que terminava perguntando se eu gostaria de participar de um bolão. Em vez de tentar adivinhar o resultado dos jogos de futebol da semana, no entanto, o grupo apostaria em algo bem mais interessante: a data da prisão de Jair Bolsonaro. Fiquei surpreso. Não por considerar o fato improvável, pelo contrário, tenho certeza de que se existe Justiça no Brasil isso acontecerá o quanto antes. O que me chamou a atenção foi saber que ainda há gente que consegue rir ou associar algum tipo de humor a um personagem nefasto como o ex-presidente.

Não ligo se o líder da extrema direita for preso por fraude no cartão de vacinação ou negligência na pandemia, contanto que pague por isso

Segundo meu amigo, a maioria dos participantes do bolão acredita que ele será encarcerado ainda no primeiro semestre. Confiam que a varredura da Polícia Federal em seu celular trará motivos de sobra para trancafiá-lo por um bom tempo. O aparelho foi apreendido em uma operação que investiga a falsificação de cartões de vacinação, mas cujas mensagens preliminares apontam que seus assessores no Planalto discutiam formas de dar um golpe de estado como se fosse um passeio ao parque de diversões. Outros apostadores, mais pessimistas, acham que Bolsonaro
só vai para a cadeia mais perto do fim de ano, uma espécie de presente de Natal para a democracia brasileira.

Para mim, o importante é que a lei seja cumprida. Não ligo se ele for enquadrado por fraude no cartão de vacinação, genocídio contra o povo Yanomami ou negligência com a população brasileira durante a pandemia. Se a investigação encontrar provas que Bolsonaro cometeu algum crime, temos a obrigação de condená-lo. Ponto final. É sempre bom lembrar que Al Capone, gângster com uma ficha corrida comparável a dos nossos piores milicianos, foi pego por uma simples sonegação de impostos.

E se Bolsonaro for preso, quem será seu herdeiro? Há gente especulando que sua mulher Michelle deveria assumir esse vácuo. Veja bem onde a nossa extrema direita chegou: o nome de Michelle Bolsonaro é cogitado para
a Presidência da República. Não é piada. É uma possível saída estratégica para Valdemar Costa Neto, presidente
do partido de Bolsonaro (PL) e ex-presidiário condenado a sete anos e dez meses de prisão por corrupção passiva
e lavagem de dinheiro. Ele conhece tão bem a política brasileira que liderava seu partido de dentro da cadeia. Pensando bem, aposto que Costa Neto ganharia fácil o bolão do meu amigo.