Comportamento

Viagens aéreas: Chefs renomados assinam a verdadeira ‘comida dos céus’

Companhias aéreas se unem a chefs de cozinha para mostrar que refeições de avião podem ser boas; cardápios elaborados para os voos comprovam que a experiência começa nos ares

Crédito: Divulgação

COM ASSINATURA Meio francês, meio brasileiro: Claude une o melhor da culinária de seus dois países em cardápio de novo voo para Paris (Crédito: Divulgação)

Por Ana Mosquera

“Dos céus!” “Dos deuses!”. É o que se costuma dizer diante de uma experiência gastronômica incrível. Apesar de consumida nos ares, as refeições servidas em aeronaves não costumam ser associadas ao divino. Na pandemia a fama piorou, com serviços sendo reduzidos ou interrompidos. A parceria entre companhias aéreas e chefs, entretanto, vem provando que comida de avião pode, sim, ser saborosa.

Testadas tão minuciosamente quanto nos restaurantes – um pouco de tempero aqui, um empratamento diferente ali –, as refeições a bordo vêm surpreendendo passageiros que esperam relaxar e viver novas experiências antes mesmo de aterrissar em seus destinos.

Os desafios podem ser maiores do que os de produzir pratos em terra firme. “Imagine embarcar mais de duas centenas de refeições todos os dias, com necessidade de segurança extrema, e de logística e pontualidade únicas! Não dá para pedir para o piloto esperar mais 30 minutinhos”, brinca o chef do Mocotó e jurado do MasterChef Brasil Rodrigo Oliveira, parceiro da KLM Royal Dutch há oito anos.

Não há lugar para a monotonia nas mais de 15 horas de viagem a Amsterdã: de raízes nordestinas, opções agregam feijão manteiguinha com camarão no urucum, salada sertaneja, nhoque de mandioca, purê de banana da terra.

INCLUSÃO Além do sabor: Manu se preocupa em juntar identidade brasileira e representatividade na Galinhada das Deusas (Divulgação) (Crédito:Divulgação)

Autor do menu do novo voo da Azul para Paris, o chef, restaurateur e apresentador Claude Troisgros se valeu da própria trajetória entre os dois países para criar, ainda que adaptando alguns detalhes para manter a qualidade nas alturas.

“Foram feitos vários testes até acertarmos os molhos, que têm que ser um pouco mais grossos, para não separar. A acidez é um pouco menos forte, porque lá em cima ela é mais presente.”

Outra preocupação de Claude, há 42 anos no Brasil, foi manter sua marca, unindo técnicas francesas a ingredientes brasileiros.

Dono de empreendimentos gastronômicos e chef premiado, ele destaca a importância do trabalho com os tripulantes que se transformam em garçons, maîtres e cozinheiros após a decolagem. “Talvez seja o treinamento mais importante. É preciso uma tripulação que saiba explicar e servir as refeições, que conheça o tempo e a temperatura para esquentar os pratos.”

A estrutura do Airbus A350, maior avião de passageiros do planeta, ajuda: são 16 fornos para garantir que as refeições resfriadas (não congeladas) sejam esquentadas diretamente nas louças e cheguem sem atraso na mesa retrátil de cada passageiro. Tudo alinhado com o fuso horário da parada final, para driblar o jet lag.

Rodrigo Oliveira, chef do Mocotó e do MasterChef (Foto: Ricardo Dangelo) (Crédito:RICARDO DANGELO)

“Colocar o menu na companhia holandesa é mais um passo para fazer da cozinha brasileira um produto internacional”
Rodrigo Oliveira, chef do Mocotó e do MasterChef

DE VOLTA Depois da crise: novos pratos de Rodrigo reúnem quatro anos de experiência acumulada (Divulgação) (Crédito:Divulgação)

Conexão: Brasil

“Dentro da aeronave, enquanto estamos ligando pessoas e lugares, podemos conectar os produtos e serviços brasileiros também. É possível colocar a comida do Brasil no palco internacional, ajudando a mostrar que o País tem muito a oferecer para o mundo”, diz Jason Ward, vice-presidente de pessoas, clientes e ESG da Azul.

Inserir a culinária nas principais rotas aéreas tem relação direta com a valorização da identidade além da fronteira nacional. “Isso precisa voar e alcançar o mundo, tanto para defender cultura quanto para ser representatividade”, fala a chef Manu Ferraz, segunda convidada do Sabor à Brasileira, da LATAM, em que cozinheiras são convidadas a elaborar preparações para os trajetos internacionais de longa distância.

“Levamos para o avião a riqueza dos nossos sabores, além de criar oportunidades e ampliar os espaços para chefs mulheres em ascensão pela criatividade e excelência do seu trabalho”, comenta Paulo Miranda, vice-presidente de clientes do LATAM Airlines Group.

Assim como o mote do projeto, a escolha de Manu tem a ver com diversidade e inclusão. “A galinhada tem sabor de Brasil, tem cores que nos representam, tem cheiro de comensal.”

A empreitada que une os chefs a caterings de excelência é complexa, mas compensa. “Um pequeno gesto de colocar o menu brasileiro em uma companhia holandesa é mais um passo para fazer da cozinha brasileira um produto internacional, que possa se adequar em qualquer lugar”, complementa Rodrigo Oliveira.

HOSPITALIDADE Serviço: treinamento da tripulação foi fundamental para garantir a qualidade (Divulgação) (Crédito:Divulgação)