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O vai e vem do PSOL: como Boulos incomoda os petistas

Partido que faz parte da base aliada de Lula vota contra as iniciativas do governo no Congresso, mas seu principal líder quer apoio do PT para ser candidato a prefeito de São Paulo

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O deputado Guilherme Boulos procura mudar o perfil: menos radical (Crédito: Divulgação)

Por Gabriela Rölke

O governo conseguiu aprovar com folga, na Câmara, o texto-base do projeto de lei complementar que institui o novo arcabouço fiscal, mas, ao contrário do que se esperava, um dos partidos de esquerda que fazem parte da base de apoio a Lula, o PSOL, votou em massa contra a iniciativa do ministro Fernando Haddad (Fazenda), que agora tem à mão regras fiscais em substituição ao antigo teto de gastos.

A bancada psolista composta por doze deputados já havia se manifestado anteriormente contrária à urgência para a tramitação da matéria, por considerar que o novo marco pode prejudicar investimentos em pautas consideradas prioritárias para o partido, especialmente nos setores de Saúde e Educação.

O que vem gerando um certo mal-estar entre petistas no governo é que, a despeito da postura oposicionista dos parlamentares do PSOL no Congresso, a sigla continua dando como certo o apoio do partido do presidente ao projeto de lançar o deputado federal Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), à Prefeitura de São Paulo, no ano que vem.

Divisor ou aglutinador?

O apoio à candidatura de Boulos, contudo, divide o PT. O psolista foi eleito para a Câmara dos Deputados depois de abrir mão de sua candidatura ao governo do estado de São Paulo em favor da aliança de esquerda liderada pelo petista Fernando Haddad, que acabou derrotado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), e a promessa dos dirigentes petistas era que ele receberia aval da esquerda para ser o candidato a prefeito de São Paulo em 2024.

Boulos trabalha, inclusive, com a expectativa de ter um petista como vice. Uma parte expressiva do partido de Lula em São Paulo, contudo, resiste em abrir mão da cabeça de chapa na disputa pela prefeitura paulistana.

MILITÂNCIA O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto impulsiona a candidatura de Boulos (Foto: João Carlos Mazella) (Crédito:João Carlos Mazella)

“Boulos invade casas. Eu as construo”
Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, candidato à reeleição

A eventual aliança com Boulos sofreu um grande baque recentemente depois que o líder do PSOL apareceu em um vídeo criticando o PT ao lado do radialista José Luiz Datena, outro candidato em potencial à prefeitura. Datena sugere uma chapa entre os dois, “para peitar o PT”.

Dirigentes do partido de Lula ameaçaram romper o acordo. O argumento desse grupo é que a cidade é um dos berços do petismo — e sempre foi vista como estratégica para o partido.

Além disso, esta seria a primeira vez, em quase quatro décadas, que o partido deixaria de ter candidato próprio para comandar a maior cidade do País.

Desde 1985, o PT sempre teve nomes na disputa — conquistou o Executivo Municipal em três ocasiões: com Luiza Erundina, em 1988; com Marta Suplicy, em 2000; e com Fernando Haddad, em 2012.

Para a ala mais ideológica do PT, portanto, a falta de um alinhamento automático do PSOL de Boulos com o Palácio Planalto em votações cruciais, como a do arcabouço, é um ótimo pretexto para que o acordo possa ser revisto e até mesmo caia por terra.

Em campanha

Por via das dúvidas, Boulos movimenta-se para tornar seu nome mais palatável a uma parcela maior do eleitorado, para além do seu nicho tradicional. Embora mantenha a capacidade de mobilização da própria base na periferia, trabalha para se descolar da pecha de radical que seus adversários lhe impõem.

De terno — o que destoa da forma como tradicionalmente se vestia —, Boulos tem procurado ser atuante na Câmara. Com ou sem o apoio do PT, a movimentação de Boulos vem incomodando os adversários.

Pré-candidato à reeleição, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), rebate o rival. “Boulos invade casas. Eu as construo”, tem dito o emedebista.

Para fustigar o adversário, aliados de Nunes na Câmara Municipal discutem um projeto de lei que prevê a aplicação de multas para quem invadir propriedades públicas ou privadas na capital paulista.

A proposta é de autoria dos vereadores ligados ao prefeito, Rubinho Nunes (União Brasil) e Fernando Holiday (Republicanos). Para mostrar que a pré-campanha já começou, as redes sociais do psolista exibem Boulos em ação na periferia de São Paulo. “Mais uma cozinha, mais solidariedade, mais esperança”, postou o deputado sobre a inauguração de uma Cozinha Solidária, na semana passada, na ocupação de sem-tetos conhecida como “Terra Prometida”, localizada na zona leste de São Paulo.