Cultura

Documentário sobre guerra na Ucrânia conquista festivais ao redor do mundo

Com equipes de filmagem sob bombardeios do exército russo, o impactante 'Liberdade em Chamas' revela os horrores do conflito na Ucrânia sob a perspectiva da população civil

Crédito: Divulgação

Liberdade em Chamas: cinegrafistas espalhados pelo país registraram a invasão russa (Crédito: Divulgação)

Por Felipe Machado

Milhares de ucranianos celebravam na praça Maidan, em Kiev, quando russo Evgeny Afineevsky filmava as cenas finais de Inverno em Chamas – A Luta da Ucrânia pela Liberdade, em 2014. Premiado em todo o mundo e indicado ao Oscar, o documentário registrou o protesto que derrubou o presidente Viktor Yanukovych, um fantoche de Vladimir Putin que impedia o ingresso da Ucrânia na União Europeia, desejo de grande parte da população. A comemoração, porém, durou pouco: Putin logo decretou imediatamente a anexação da região da Criméia. Começava ali o maior confronto militar da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Em 24 de fevereiro de 2022, Putin dobrou a aposta: os tanques russos cruzaram as fronteiras ucranianas e invadiram as cidades de Donetsk e Luhanske, na região do Donbass, rumo à capital.

Afineevsky, então, decidiu voltar à Ucrânia. O resultado é o impactante Liberdade em Chamas. A produção tem locução da atriz britânica Helen Mirren e vem conquistando plateias em festivais pelo mundo. Para obter cenas do confronto em todo o país, o diretor contou com 43 cinegrafistas e nove editores, cinco na Ucrânia, dois na Europa e dois nos EUA. O retrato dramático do conflito que já matou cerca de 300 mil pessoas, segundo a OTAN, é baseado no depoimento de civis. As histórias comoventes revelam como a guerra mudou as vidas dessas famílias e permite que o resto do mundo veja, ao vivo e em detalhes, os crimes de Vladimir Putin.

ENTREVISTA Evgeny Afineevsky, documentarista
“Após napoleão e Hitler, hoje temos putin”

Como foi possível fazer um documentário durante a guerra, sob risco de bombardeios?
Contei com a ajuda de cinegrafistas localizados em vinte pontos estratégicos, pois queria cenas abrangentes do confronto. Afinal, era impossível saber onde e quando seriam os próximos ataques.

Qual tem sido a reação mundial ao documentário?
Não posso dizer que as pessoas gostaram do que assistiram, porque ninguém gosta de ver uma tragédia. Mas os comentários têm sido muito positivos, não só por parte de civis, mas também entre os políticos.

Evgeny Afineevsky: “Zelensky é a voz da Ucrânia e muitas coisas positivas aconteceram graças a ele” (Albert Law)

Existe algum objetivo político por trás de seu filme?
Todos os meus trabalhos têm algum chamado à ação. Quero unir as pessoas a favor da Ucrânia e mostrar como é a guerra do século 21. As armas são importantes, mas a batalha acontece também na mídia. Estamos todos envolvidos porque a propaganda chega ao mundo inteiro.

Como avalia o papel de Zelensky?
Sua personalidade e atuação foram muito importantes. Está em todo o lugar, sendo visível e discursando.
É a voz da Ucrânia e muitas coisas positivas aconteceram graças a ele.

O povo ucraniano se arrepende dos protestos pela independência em 2014, tema de seu filme Inverno em Chamas? O movimento foi o estopim para a invasão da Criméia.
Ninguém se arrependeu. Essa é a luta de um povo por sua liberdade.

Quais foram os momentos de maior emoção durante as filmagens?
Fiquei muito próximo dos cidadãos que deram depoimentos. Pouco após a filmagem, Anya, que aparece com o bebê no colo, foi capturada e hoje é prisioneira do exército russo.

Como vê o apoio dos outros países? É preciso um esforço maior?
Sim, porque os armamentos enviados acabam rapidamente. Dizem que a Rússia é um “dragão ferido”, mas é preciso liquidar esse monstro antes que ele acabe com o mundo.

O que aprendemos com essa guerra?
Que o mundo inteiro deve ficar unido, porque a Terceira Guerra Mundial já começou. Qualquer país pode ser um alvo a ser invadido por algum ditador. A forte reação internacional, por exemplo, fará a China pensar duas vezes antes de invadir Taiwan.

Acredita que Vladimir Putin seguirá com seu imperialismo na região?
Putin é ambicioso e não vai parar enquanto não for derrotado. Todo século tem seu ditador imperialista. No século 19, foi Napoleão. Depois veio Adolph Hitler. Agora temos Putin. O problema é que as armas estão cada vez mais sofisticadas, o que torna o mundo um lugar mais perigoso. É preciso deter Putin o quanto antes.

A Ucrânia vai vencer a guerra? Como vê o futuro desse conflito?
Sim. Os russos serão expulsos do território, mas a verdadeira vitória só virá quando o próximo presidente da Rússia se ajoelhar em Kiev e pedir perdão a todo o povo ucraniano.