Cultura

Tina Turner foi pioneira do empoderamento feminino no rock

Nunca o nome de uma música traduziu tão bem sua intérprete — Tina Turner foi, de fato, simplesmente a melhor. Ganhou oito Grammys e vendeu mais de 100 milhões de discos em meio a uma vida particular sofrida e conturbada. Pioneira do empoderamento feminino, seu adeus definitivo aconteceu na Suíça, aos 83 anos

Crédito: AP Photo/Gill Allen

Tina Turner: a rainha do rock que antecipou o empoderamento feminino (Crédito: AP Photo/Gill Allen)

Por Felipe Machado

A cantora Tina Turner morreu na quarta-feira 24, aos 83 anos. Mas não seria honesto afirmar que a rainha do rock and roll norte-americano, “simplesmente a melhor”, como dizia sua canção mais famosa, teve uma única vida.

Nascida Anna Mae Bullock, em 1939, sua primeira existência não foi das mais felizes. Viveu uma infância humilde em Brownsville, Tennessee, trabalhando em campos de algodão e cantando nos corais da igreja.

Em sua autobiografia, Minha História de Amor, ela afirma “que não se sentia amada pela família”. Abandonada pelos pais, mudou-se para St. Louis, no Missouri, onde passou a trabalhar como garçonete em clubes de música ao vivo. Em uma dessas noites conheceu o homem que mudaria sua vida, mas que também a transformaria em um inferno: Ike Turner.

Líder do grupo The Kings of Rhythm, ele logo a convidou para integrar sua banda como backing vocal. O romance que teve início junto com a parceria artística fez Anna abandonar o nome e passar a assinar como Tina Turner — o que marcou, de forma definitiva, o começo da sua segunda vida.

O primeiro sucesso, Fool in Love, catapultou a dupla ao estrelato. Nos bastidores, no entanto, acontecia uma das relações mais abusivas da história do showbiz. Vítima de agressões do marido, Tina chegava a se apresentar exibindo roxos e machucados no rosto e pelo corpo.

Em 1974, ainda casada, lançou seu primeiro trabalho solo, Tina Turns the Country On, com versões para músicas country. O êxito lhe deu coragem para se afastar do marido, cada vez mais viciado em cocaína – ele viria a morrer de overdose, no ostracismo, em 2007.

A cantora ainda levou quatro anos para conseguir se separar de Ike. Em 1978, fechou um acordo definitivo para conquistar sua independência: abriu mão de todo o patrimônio para manter o sobrenome, que já era sua marca registrada.

Sua atitude corajosa, de abandonar o passado e encarar uma nova carreira, a coloca, também, entre as pioneiras do empoderamento feminino.

Tina Turner: a carismática estrela dos palcos recebeu homenagens dos fãs na Calçada da Fama, em Hollywood (Crédito: Divulgação)

O recomeço que marcou a terceira fase da sua vida contou com a ajuda de amigos como David Bowie e Mick Jagger. Em turnês pelo mundo, Tina consolidou seu nome como a rainha do rock, trajetória marcada pela voz potente e o carisma nos palcos — e, claro, as famosas pernas, “as mais longas do rock”, como dizia Rod Stewart.

Foram muitos hits ao longo dos anos 1980 e 1990 — Private Dancer, What’s Love Got to Do With it, We Don’t Need Another Hero, entre outros.

Tina ainda se arriscou em papeis no cinema. Interpretou a Acid Queen, em Tommy, ópera-rock do The Who (1975), a vilã Tia Entity, em Mad Max – Além da Cúpula do Trovão, (1985) e a prefeita de Los Angeles em O Último Grande Herói (1993).

Em 1999, com o lançamento de seu último álbum de estúdio, Tina começou a dar adeus à vida artística. Casou-se em 2013 com o empresário alemão Erwin Bach, mas o destino lhe reservaria uma tragédia: três meses após o enlace, ela sofreu um derrame que afetou suas habilidades motoras.

Em 2016, foi diagnosticada com câncer, provável causa da morte, embora não confirmada pela família. Tina viveu os últimos anos de sua última vida em Kusnacht, na Suíça.

Do palco ao livro dos recordes

Relação abusiva

O marido Ike trouxe Tina para a carreira artística, mas também a levou para o inferno — ela fazia shows com o rosto machucado (Divulgação)

A vilã de Mad Max

A cantora arriscou-se no cinema, tanto como atriz (acima) quanto em temas de trilhas sonoras, entre elas 007 Contra Goldeneye (Divulgação)

Tina in Rio

Em 1988, ela entrou para o livro dos recordes pelo maior público em show de artista solo: 188 mil pessoas, no estádio do Maracanã (Crédito: Divulgação)