Cultura

Ivana Chubbuck traz ao Brasil o método de atuação mais famoso de Hollywood

Crédito:  Mark Ralston / AF

De Ivana sobre Brad Pitt: “Há muitos homens mais bonitos trabalhando nos restaurantes de Los Angeles. O que conta não é só a beleza, mas a dedicação” (Crédito: Mark Ralston / AF)

Por Felipe Machado

Quando Halle Berry subiu ao palco da Academia para receber o Oscar por A Última Ceia, ela agradeceu aos pais, ao marido e a Ivana Chubbuck: “Eu nunca conseguiria entender quem era a personagem sem você”. Milhões de pessoas que assistiam à cerimônia em casa não tinham a menor ideia a quem a atriz estava se referindo, mas seus colegas reconheceram o nome imediatamente: Ivana é a professora de atuação mais famosa de Hollywood.

Com mais de três décadas de carreira, a norte-americana é a criadora da Técnica Chubbuck, método em doze etapas que ela criou baseada em sua própria experiência de vida.

Filha de mãe com problemas mentais e um pai ausente, recorreu à psicologia e à ciência comportamental para transformar seus traumas em vitórias.

Os atores que trabalham sob sua orientação aprendem a usar emoções reais para alcançar o objetivo desejado por seus personagens na ficção.

No Brasil

Esse conceito vem atraindo às suas classes nomes como Brad Pitt, Charlize Theron, Gal Gadot, Jim Carrey, Meg Ryan, Beyoncé, Sylvester Stallone — a lista é longa. Agora será a vez dos brasileiros conhecerem seu trabalho.

Ivana vem ao País para o lançamento de O Poder do Ator, livro em que detalha sua técnica, e para ministrar uma Masterclass no Rio de Janeiro, em 29 e 30 de maio. Seu objetivo é capacitar nomes para o mercado internacional:

“Quero prepará-los para serem atores em qualquer lugar do mundo. Sinto que o povo brasileiro tem muita paixão e quero resgatar essa paixão como combustível para a atuação.”

Não será, no entanto, a primeira vez que trabalhará com profissionais daqui. Ronaldo Gianecchini, Isis Valverde e Agatha Moreira já frequentaram o Ivana Chubbuck Studio, em Los Angeles.

“Quando eu decidi estudar, procurei alguém que pudesse me tirar da minha zona de conforto. Ela elevou o nível do meu trabalho e tornou meu processo criativo mais interessante e dinâmico”, afirmou Agatha.

Ivana orienta Beyoncé (à esq.) no set de filmagem de Dreamgirls: empoderamento da personagem inspirou canção (Divulgação) (Crédito:Divulgação)

Ivana acredita que as boas interpretações nascem das experiências pessoais — mas suas ferramentas podem ser aplicadas no sentido inverso.

Ela cita o exemplo de Beyoncé, com quem trabalhou na preparação para o filme Dreamgirls – Em Busca de um Sonho. A cantora faz o papel de Deena Jones, inspirado em Diana Ross. “Beyoncé é uma das pessoas mais esforçadas com quem trabalhei”, elogia.

“Para compor sua personagem, tratamos o empoderamento feminino que seria necessário para dar voz a uma mulher negra dos anos 1960, como o papel exigia. Mais tarde ela ligou agradecendo e disse que a canção All the Single Ladies tinha sido inspirada por aquele sentimento.”

Para Ivana, os grandes atores não dependem apenas do carisma e talento, mas do empenho: “Há muitos homens mais bonitos que Brad Pitt trabalhando nos restaurantes de Los Angeles. Lembro que ele estava em três empregos e encontrava tempo para frequentar minhas classes. O que conta não é só a beleza, mas a dedicação.”


Entrevista com Ivana Chubbuck, professora de atores


“Atuar é uma linguagem universal para o ser humano”

Quando decidiu se tornar uma professora de atuação, em vez de uma atriz de sucesso?
Atores gostam de trabalhar juntos, trocar informações. Meus colegas começaram a dizer que suas atuações melhoravam quando eu fazia comentários sobre as performances. Com o tempo, passei a ensinar mais e atuar menos. Prefiro trabalhar nos bastidores.

O que sente quando um ator que usa suas técnicas ganha o Oscar?
É uma sensação incrível. Quando Halle Berry ganhou o Oscar, me ligou para dizer que a estatueta não era dela, mas nossa. Me sinto bem quando vejo artistas talentosos ganhando bastante dinheiro e trocando apartamentos apertados por mansões.

Ivana Chubbuck: norte-americana é a criadora da Técnica Chubbuck e já trabalhou com atores brasileiros (Divulgação) (Crédito:Divulgação)

Sua técnica inclui usar traumas pessoais para compor os personagens? De onde veio isso?
Todo personagem é alguém que precisa realizar algum desejo e vencer na vida. Essa é a base da dramaturgia. Para não ser derrotada pela dor, encontrei coragem onde muitos viam autodestruição. Minha mãe era abusiva, eu e meus irmãos fugíamos dela. Meu pai, sobrevivente do holocausto, era um advogado que ajudava muita gente, mas não cuidava de nós. Atuar foi a maneira que encontrei para superar esses problemas.

Sua palestra no Rio de Janeiro pretende preparar atores brasileiros para o mercado internacional. Atuar é uma atividade igual em todo o mundo?
Trabalho com profissionais do mundo inteiro. A indústria, de maneira geral, funciona da mesma maneira: o público busca estabelecer uma relação com os personagens que estão na tela. EUA, Austrália e Brasil têm culturas diferentes, mas os sentimentos são iguais. Atuar é uma linguagem universal para o ser humano. Um cineasta chinês me disse que pede aos seus atores para ler meu livro antes das filmagens porque isso facilita o seu trabalho como diretor.

Passamos pelo cinema mudo, hoje temos longas-metragens e séries com tecnologia e efeitos especiais. O trabalho do ator mudou?
A técnica é a mesma e a busca pela emoção também. O ator Christian Bale costuma dizer que “uma boa atuação é sempre uma boa atuação”, não importa o local ou a época. Ele está certo.

É verdade que os atores famosos só se preocupam em ganhar o Oscar?
Não. As pessoas que ganham prêmios são geralmente aquelas que menos se importam com isso. Elas querem oferecer boas performances, e investem o tempo que for necessário para se preparar bem. Essa é a diferença entre as lendas do cinema e gente que está apenas trabalhando. O sucesso nunca vem por acaso, é sempre fruto de muito esforço pessoal.

Os grandes astros também pensam assim ou acabam se acomodando?
Quem para de aprender, para de viver. Qual o sentido de acordar pela manhã se você já sabe tudo? Quando um ator começa a pensar assim, ele está antecipando o fim de sua carreira.